Construir um terminal de contentores na Trafaria “seria um erro ambiental, colocaria em risco a qualidade de vida da população e seria ainda uma má aplicação dos dinheiros públicos”. Este tem sido o alerta lançado pela “Associação Contentores na Trafaria Não” nas suas acções públicas de protesto e que agora parece encontrar algum eco também nas associações ambientalistas Quercus e GEOTA.
No início desta semana a presidente do Porto de Lisboa veio afirmar que a capacidade do terminal de Alcântara está perto do limite, pelo que é necessário construir um porto de contentores na Trafaria, ao que acrescentou já ter indicações do Governo para avançar com estudos e tomar uma decisão. Entretanto, o presidente da Refer revelou que já foi desenhado o traçado para a construção da linha de caminho de férreo – exclusiva para mercadorias –, entre a Trafaria e a Plataforma Logística do Poceirão, (Palmela).
Em matéria de custos a construção do porto de contentores na Trafaria atinge os mil milhões de euros, enquanto a construção da linha férrea, numa extensão de 7,9 quilómetros, custará 160 milhões de euros e deverá estar construída no segundo semestre de 2019.
Para José Pedro Dionísio, da “Associação Contentores na Trafaria Não”, o projecto “não está a considerar o impacte ambiental” nesta localidade entre o Tejo e o Atlântico. Aliás, na sua opinião os danos ambientais, para além de atingirem a Trafaria, “vão destruir praias da Costa da Caparica”.
Nos últimos anos o cordão dunar da frente norte de praias da Costa da Caparica tem sido rompido pelas marés de inverno, o que implicou a trabalhos de enchimento artificial com areia, obra que ainda não está acabada. “A construção do porto de contentores na Trafaria obriga a drenar o leito do rio o que irá reflectir-se em marés mais elevadas e a consequente destruição, final, de praias na Costa da Caparica”, reafirma José Pedro Dionísio.
Assim sendo, este terminal “a ser construído, vai acabar com a qualidade de vida da população da Trafaria e também a da população da região de Lisboa que deixa de ter boas praias na Costa da Caparica”, conclui este elemento da associação.
Outra questão que evoca é a aplicação dos dinheiros públicos. “Num momento em que o país tem de fazer face a uma elevada dívida pública, é ainda mais importante definir bem prioridades”.
Para a “Associação Contentores na Trafaria Não”, o Governo tem outras opções que envolvem menos custos. “É possível rentabilizar melhor o Porto de Sines, onde já existem boas infra-estruturas, ou optar por gerir o movimento de contentores entre o Porto de Lisboa e o de Setúbal, onde também existem boa capacidade para estas operações”. Por outro lado, “não faz sentido gastar 160 milhões de euros numa linha férrea que tem ainda riscos ambientais por atravessar área protegida”.