Os 85 anos do aparecimento da personagem de banda desenhada Tintin, criada pelo autor belga Hergé, vão ser assinalados na quinta-feira, numa tertúlia organizada na Amadora pelo Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem (CNBDI).
Na tertúlia "Às quintas falamos de BD" estarão António Monteiro, do grupo Amigos de Hergé Portugueses, e o autor de banda desenhada João Mascarenhas.
O encontro abordará "este herói de papel e a sua estreita relação com Portugal e a revista `O Papagaio`, onde as aventuras de Tintin foram pela primeira vez publicadas, em 1936, escritas numa outra língua, que não o francês, e apresentadas a cores", refere o CNBDI.
Tintin, o famoso repórter que protagonizou centenas de páginas de aventuras de banda desenhada, surgiu a 10 de janeiro de 1929 no suplemento juvenil "Le Petit Vingtième".
Acompanhado pelo fox terrier Milu, Tintin é considerado uma das mais populares personagens de banda desenhada, criada pelo belga George Remi (Hergé), tendo sido apresentado como um jovem jornalista do Petit Vingtième, enviado à antiga União Soviética, onde se envolve em várias cenas de pancadaria.
A partir daí, Hergé colocou Tintin em aventuras no Oriente, no oeste americano, no mar, em terra e no espaço - numa ida à Lua-, mas nunca teve uma história em Portugal.
Foi, no entanto, uma revista portuguesa "O Papagaio" que primeiro "internacionalizou" os relatos das viagens do jovem repórter, em 1936.
Antes de existirem as traduções para inglês ou neerlandês, fica para a história a edição em português, quando a carismática banda desenhada só tinha passado fronteiras para a França e para a Suíça, mantendo sempre o francês como língua.
À primeira tradução de Tintin a nível mundial junta-se outro marco histórico para "O Papagaio": é nas suas páginas que os desenhos de Hergé são apresentados pela primeira vez a cores, o que até nem desagradou ao autor, quando recebeu as revistas portuguesas.
Hergé correspondia-se com alguma frequência com o padre Abel Varzim - o responsável pela compra dos direitos de Tintin para Portugal - e confessou ter ficado "encantado" por ver os desenhos a cores, apenas criticando a paginação, remontada.
Dizia que não respeitava o original e por isso alterava o efeito de "suspense". "Os desenhos são concebidos como num folhetim, para terminar em cada semana com um desenho palpitante, para melhor manter o leitor interessado", explicava.
Adolfo Simões Müller, então director de "O Papagaio", não escondia o seu entusiasmo pelo trabalho de Hergé e assegurou, na sua saída da revista, levar as histórias de Tintin para outras publicações que depois dirigiu: "Diabrete", "Cavaleiro Andante", "Foguetão", "Zorro".
A edição das aventuras de Tintin em álbum só começou em Portugal em 1988 pela Verbo... 52 anos depois de "O Papagaio".
Hergé morreu em 1983, aos 76 anos, deixando incompleto "Tintin e Alpha-Art", mas em todo o mundo, os mais de vinte álbuns que desenhou foram traduzidos em 77 línguas e venderam mais de 230 milhões de exemplares em todo o mundo.
As 24 aventuras de banda desenhada de Tintin foram reeditadas posteriormente pela ASA.