Três organizações não governamentais de defesa do ambiente deram hoje um parecer desfavorável ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do empreendimento turístico da Mata de Sesimbra, que consideram ser um atentado contra o ambiente e ordenamento do território.
A Liga para a Proteção da Natureza (LPN), Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus) e Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) acusam a Câmara de Sesimbra de insistir num mega empreendimento com fortes impactes negativos na região e garantem que o EIA não faz uma avaliação dos impactes cumulativos de todos os empreendimentos turísticos previstos para a Península de Setúbal.
Assegurando que já existe "oferta excessiva" para toda a península, para onde está previsto um total de sete campos de golfe e de 30.000 camas, os ambientalistas dizem que se está "em presença do planeamento da construção de um `continuum´ urbano do Seixal até Sesimbra, com impactes sobre as áreas classificadas e as populações, que não foram avaliados”.
Só o empreendimento turístico da Mata de Sesimbra sul prevê um total de 17.000 camas turísticas, a maioria das quais em moradias, e de três campos de golfe, o que para a LPN, Quercus e GEOTA "significa a construção de uma verdadeira cidade, numa zona até agora de uso florestal".
Para as associações ambientalistas, o EIA também não avalia devidamente os impactes sobre o ordenamento do território (acessibilidades e dinâmica territorial), limitando-se a enunciar algumas condicionantes.
"O Plano de Acessibilidades para o concelho de Sesimbra, afirma claramente que, mesmo com todas as medidas preconizadas, não seria possível garantir as acessibilidades para o nível de ocupação que este empreendimento pressupõe", referem os ambientalistas.
As associações consideram também que não foi feita uma avaliação rigorosa dos impactes sobre os recursos hídricos, abastecimento de água e saneamento básico, nem avaliados os impactes na biodiversidade e no património natural, designadamente sobre o Sítio de Importância Comunitária "Fernão Ferro" e sobre a Zona de Proteção Especial para as Aves "Lagoa Pequena".
Além de tudo isto, os ambientalistas reiteram que a oferta turística existente na região é mais do que suficiente e está longe de uma ocupação a 100%, mesmo nas épocas altas, salientando ainda que, de acordo com os Censos de 2011, só no concelho de Sesimbra existem 2.836 alojamentos devolutos, o que significa uma capacidade habitacional na ordem das 10.000 pessoas.
Os ambientalistas da LPN, Quercus e GEOTA advertem ainda que o mega empreendimento da Mata de Sesimbra, a ser concretizado, vai alterar profundamente a paisagem e os ecossistemas existentes no local e poderá pôr em causa o projeto de Candidatura da Arrábida a Património Mundial da Humanidade.