Arqueólogo diz que teleférico na serra de Sintra prejudica paisagem e economia

 A construção de um teleférico na serra de Sintra pode atentar contra a economia local, alertou o arqueólogo José Cardim Ribeiro, num debate sobre os 20 anos da classificação da vila como património mundial, promovido pela Alagamares.
 
“O teleférico é um pouco como matar a galinha dos ovos de ouro”, defendeu o arqueólogo, considerando que os turistas passarão muito menos tempo em Sintra.
 
“Passa-se a vida a dizer que temos de fixar o turista mais em Sintra, para que ele não chegue cá e saia logo a correr depois de ver os dois ou três principais monumentos”, lembrou José Cardim Ribeiro, que coordenou a candidatura de Sintra a património mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
 
O arqueólogo falava num debate, no MU.SA – Museu das Artes de Sintra, organizado pela associação cultural Alagamares, sobre os 20 anos da classificação, a 06 de dezembro de 1995, da Paisagem Cultural de Sintra pelo comité do património mundial da UNESCO.
 
Durante o debate, João Cachado, morador e professor, questionou se, “para resolver um problema de acesso pontual na serra de Sintra”, seria preferível um teleférico ou um funicular, esta última solução com menor impacto paisagístico e ambiental.
Para Cardim Ribeiro as duas soluções afetam a serra, quer do ponto de vista paisagístico, no caso do teleférico, quer por atravessar uma zona com importantes vestígios arqueológicos, caso se opte pelo funicular.
 
Para Cardim Ribeiro, a alternativa passará por criar um circuito de pequenos autocarros, que poderão ser elétricos, que efetuem a ligação entre os monumentos e parques de estacionamento periféricos à vila.
 
“A ‘Paisagem Cultural de Sintra’ não é local adequado para experiências ou soluções arquitetónicas e/ou paisagísticas que visem impor-se pelo contraste”, considerou José Cardim Ribeiro, durante a sua intervenção.
 
Embora ainda seja preciso fazer muito na área classificada, na vila e na serra, o arqueólogo manifestou-se preocupado com as zonas “tampão” e “de transição” – delimitadas para enquadramento da zona património mundial –, para onde defende ser necessário elaborar planos de pormenor e de salvaguarda dos seus valores.
 
Na abertura do debate, o presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta (PS), defendeu que “o património mundial tem de ter um tratamento autónomo” pelo Estado e de beneficiar de uma “atenção especial”.
 
Os moradores numa zona património mundial “têm de ter obrigações sociais e direitos sociais”, através da criação de condições favoráveis ao financiamento de intervenções nestas áreas, vincou.
 
O autarca elogiou o trabalho desenvolvido pela sociedade Parques de Sintra-Monte da Lua na recuperação dos parques históricos e monumentos na zona classificada pela UNESCO e adiantou que a comemoração dos 20 anos da Paisagem Cultural vai ser desenvolvida pela empresa pública e pelo município.
 
No encontro da Alagamares participaram ainda o urbanista e arquiteto paisagista Sidónio Pardal, e o ex-ministro do Ambiente e presidente do Conselho Estratégico Ambiental de Sintra Francisco Nunes Correia.
 
Fernando Morais Gomes, da Alagamares, explicou que a associação, numa altura em que comemora 10 anos, pretende promover “a democracia do território”, porque, além da democracia representativa, as populações também se devem pronunciar sobre as questões do ordenamento do território.