Arquivo Histórico recorda génese da Linha de Sintra

Há 140 anos, chegava a Sintra o primeiro comboio. Em 1873, o Larmanjat, em monocarril, foi o primórdio das primeiras composições que chegariam em 1887. Os descarrilamentos constantes e os atrasos significativos, ao longo de um percurso de 26 km, efectuado em uma hora e 55 minutos, fizeram com que o Larmanjat passasse à história em 1877. Uma década depois, a 2 de Abril de 1887, foi inaugurada a ligação ferroviária de Lisboa e Sintra, num acontecimento que mudou, para sempre, a realidade da vila e do concelho.

Esta resenha histórica pode ser vivenciada na exposição documental “Linha dos Caminhos de Ferro de Sintra”, patente até 27 de Abril, no Arquivo Histórico de Sintra (AHS), instalado no Palácio Valenças. Com entrada livre, de segunda a sexta-feira das 9h30 às 17h30, a exposição resulta de uma parceria entre o AHS e o Clube de Entusiastas do Caminho de Ferro (CECF), dando a conhecer a evolução da ligação ferroviária desde o seu início até à actualidade.

Com um espólio assente em fotografias de época e documentos históricos, a exposição desvenda a forma como a Linha de Sintra contribuiu para o crescimento do concelho, inicialmente na vila com a criação de um novo bairro, o da Estefânea, baptizado em honra da malograda esposa de D. Pedro V. A correnteza de casas da Estefânea começou a surgir com a construção do Larmanjat, para alojar os engenheiros que trabalhavam na linha, dadas as dificuldades de deslocações para a capital.

Mais tarde, o corredor entre a Portela de Sintra e Queluz foi também influenciado pela ligação ferroviária. Como confirma o historiador Jorge Trigo, o desenvolvimento do concelho está intimamente ligado à evolução da Linha de Sintra. “Para o bem e para o mal. Não há dúvida que a Linha de Sintra teve um papel fundamental para que o concelho se transformasse radicalmente. As zonas urbanas que eram quintas, onde muita gente saía de Lisboa para se tratar de doenças pulmonares, deram lugar a grandes aglomerados populacionais”, salienta.

Autor do único livro sobre a história da Linha de Sintra, Jorge Trigo, vice-presidente do CECF, recorda que desde os anos 50 do século XIX “houve várias tentativas para a construção de uma linha”, mas que se revelaram infrutíferas. “Depois mais tarde, veio então o Larmanjat que foi uma iniciativa do Duque de Saldanha, que teve em França e assistiu à apresentação pública de um comboio que tinha uma particularidade: um só carril e depois com umas passadeiras de madeira, com umas rodas dos lados, para equilibrar a composição.

Inaugurado a 2 de Julho de 1873, o Larmanjat abriu ao público três dias depois, efectuando um percurso que tinha como estações Porta do Rego, Sete Rios, Benfica, Porcalhota (Amadora), Ponte de Careque, Queluz, Cacém, Rio de Mouro, Ranholas e Sintra. Os problemas, descarrilamentos frequentes e atrasos sucessivos, acabaram por traçar o destino do Larmanjat que foi suspenso em Abril de 1875 e encerrou em 1877, com a falência da empresa Lisbon Steam Trawmays Company.

Entre o material exposto no AHS, além de gravuras do sistema Larmanjat, pode-se observar um livro de actas da Câmara Municipal de Sintra, da reunião realizada a 21 de Maio de 1875, que viabiliza a ligação ferroviária e, em particular, a construção da estação de Sintra. A ligação definitiva é retratada em diversos documentos, que dão conta que, por exemplo, a linha foi inaugurada (2 de Abril de 1887) com partida de Alcântara-Terra, já que só no início da década de 90 entrou em funcionamento a estação do Rossio. Sete décadas depois, em 1956, a linha foi electrificada, seguindo-se, um ano depois, a entrada ao serviço das primeiras automotoras eléctricas.