Mais de três centenas de obras de arte vão ocupar, a partir de 25 de julho, todo o Centro de Arte Moderna, em Lisboa, incluindo uma instalação sonora, nas casas de banho, para celebrar trinta anos desta instituição.
Numa entrevista à agência Lusa sobre a efeméride, Isabel Carlos, diretora do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, revelou que a celebração será feita com base na própria coleção, "mas correndo riscos".
A "estrela" da celebração será o artista Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), de quem o CAM possui o maior acervo existente no país, porque a Gulbenkian foi adquirindo obras ao longo dos anos e também devido a "uma generosa doação" feita pela família do artista.
"Amadeu de Souza-Cardoso é, de facto, o grande pintor da primeira metade do século XX. É incontornável. Está lá tudo. Tudo o que foi o século XX está na obra dele. Por isso pareceu-nos óbvio que ele tinha de ser a âncora desta celebração e desta exposição", justificou Isabel Carlos.
A diretora do CAM considera que "será uma grande descoberta" para grande parte do público porque será mostrado o trabalho em desenho do artista, "que tem sido muito pouco visto".
"A pintura tem sido razoavelmente vista, mas não o desenho, e é surpreendente porque tem toda a qualidade da pintura, mas vai ainda mais longe na pesquisa", destacou.
"Sob o Signo de Amadeo. Um Século de Arte" é o título da exposição, que irá mostrar 176 das cerca de 190 obras do acervo deste artista no CAM, cuja coleção total ascende a 10 mil peças de arte moderna e contemporânea de artistas portugueses e estrangeiros.
"Celebramos estes trinta anos com a coleção, mas corremos riscos, porque é isso que achamos que deve ser um Museu de Arte Contemporânea", comentou Isabel Carlos, convidada em 2009 para dirigir o centro.
Serão ao todo cerca de 350 peças da coleção a invadir todos os espaços do centro, e até nas casas de banho estarão obras de arte: uma instalação sonora criada por Luísa Cunha, um dos aspetos inéditos desta celebração.
Na Biblioteca de Arte estará uma exposição com uma seleção dos catálogos criados nos 30 anos do CAM, com posters, imagens de arquivo de montagens de exposições anteriores e inaugurações.
"As pessoas vão poder ver trinta anos do CAM e ao mesmo tempo da história portuguesa, com a presença de personalidades da cultura e da política desses anos nos eventos", observou.
Para sublinhar uma das linhas fundamentais da coleção a nível internacional - que é a presença da arte britânica - será montada uma mostra com obras da pop britânica em diálogo com a portuguesa.
Na nave do museu serão instaladas obras em torno da ideia de ação, de performance, de teatro, e de palco: "Tal como a nave é o centro do espaço do museu, também esta ideia é central para a maneira como organizámos o acervo. Consideramos que a performance é, no século XX, a linguagem que mais faz o corte entre a arte moderna e a contemporânea".
Isabel Carlos recordou que, na moderna historiografia, considera-se que a arte moderna vai até 1968, e tudo o que vem depois é arte contemporânea.
"A performance radicaliza ideias como anti-arte, anti-museu, efémero, contra o mercado ou o corpo da obra ser igual ao corpo do artista. São ideias e conceitos que colocaram a arte num lugar incómodo e fizeram este corte entre a arte moderna e a contemporânea. Por isso escolhemos a performance como um conceito central para organizar o acervo", explicou.
Na Galeria 1, o CAM vai ter uma pequena História do século XX, com as obras-primas da coleção, desde António Carneiro até Pedro Cabrita Reis.
Na Sala Polivalente será apresentado um programa de filmes e vídeos do CAM, de forma cronológica, começando por Ângelo de Sousa e Fernando Calhau, nos anos 1970, até aos artistas contemporâneos, como Vasco Araújo.
Outra iniciativa na programação do aniversário, que decorrerá até ao final do ano, é um ciclo sobre a História da performance em Portugal, começando por Alberto Pimenta, até à geração mais nova, que está em retorno, sublinhou Isabel Carlos, apontando como exemplo artistas como Joana Bastos e Isabel Carvalho.
O dia do aniversário do CAM será celebrado a 25 de julho, com várias iniciativas, culminando com um concerto no anfiteatro, às 22:00, de entrada livre, com a cantora Maria João, que apresentará o seu mais recente projeto, OGRE.