Assembleia Popular de Algés, as manhãs de sábado a despertar consciências

Partem “do estado a que isto chegou” para trabalharem para o estado a que querem que chegue: a Assembleia Popular de Algés reúne na rua, aos sábados, quer “pensar global e agir local”, despertando consciências e deitando mãos à obra.
Este é um espaço “autogerido”, aberto. Aqui não há líderes nem representantes. Há ‘assembleários’, nenhum mais importante do que o outro. E há "políticos apartidários", pessoas – dos vintes aos oitentas – “com ideias e vontade de fazer coisas”. O que aos sábados acontece num espaço com sombra no Jardim dos Anjos, em Algés, é uma assembleia popular formada de fresco.
João Pestana, de 56 anos, diz à Lusa que este grupo é, como outros que ainda existem por todo o país, um movimento “filho da acampada do Rossio”, que foi, em 2011, “uma lufada de ar fresco”, e considera que “o tempo há de construir esta assembleia, que está muito no início”, fazendo “aparecer e desaparecer muita gente”.
A legendar o espaço, num dos últimos sábados, em cima de um cavalete de madeira, um cartão escrito com marcador preto: “Assembleia Popular de Algés”. A reunião, marcada para as 11:00, demora a arrancar. A discussão começa já perto do meio-dia. Há duas dezenas de pessoas em círculo. Até ao fim do encontro, juntam-se aqui 30 pessoas.
Todas falam. Ao centro do círculo vão chegando ideias: há quem sugira um trabalho de campo para identificar necessidades na freguesia; há quem se ofereça para pequenos trabalhos domésticos; quem esteja disponível para cozinhar ou para ensinar línguas; há quem sugira que a assembleia se coordene com coletividades locais; quem se proponha reunir apoiantes para construir em Algés uma horta comunitária; quem sugira que se crie um grupo de leitura encenada em cafés e restaurantes para dar visibilidade à assembleia; há quem venha explicar como se cria e como funciona um banco do tempo.
“O nosso objetivo é dar vida a Algés. Isto é uma pasmaceira”, diz Paula Montez, de 48 anos, “licenciada desempregada”. A freguesia, considera, “tem sítios impecáveis para fazer este tipo de coisas e tem pessoas com capacidade e vontade”.
A ideia é que “cada um traga as suas valências e as suas ideias”, para que o grupo “ganhe força e peso na assembleia de freguesia, para expor as suas ideias”.
Para o arquiteto André Cid Lauret, de 35 anos, a essência da assembleia popular é “pensar global e agir local”, porque, considera, a capacidade que têm para “ter influência no topo é mínima”.
“Na assembleia tentamos envolver as pessoas da comunidade, para que se sintam úteis, para despertar consciências”, acrescenta.
Ao seu lado, Cândida Maria, octogenária, professora de português e francês aposentada, está na assembleia porque gostava que houvesse uma “universidade sénior em condições” em Algés. À que existe, conta, foi duas vezes. As salas estavam “muito apertadas” e foi preciso “tirá-la de lá”.
O presidente da Junta de Freguesia, Joaquim Ribeiro, eleito pelo movimento “Isaltino Oeiras Mais à Frente”, não associa, como os académicos e os próprios ‘assembleários’, o surgimento destes movimentos à desilusão dos cidadãos com os partidos, com os políticos e com a política.
“Eles [os membros da assembleia popular de Algés] aproveitam a conjuntura de crise, surfam no descontentamento e vão à boleia da onda”, disse à Lusa, considerando que o grupo não é “representativo do tecido social e do número de habitantes da freguesia”.
A 'assembleária' Maria Manuela Sacarrão, reformada da banca, discorda do autarca. No fundo, resume, aqui discute-se “o estado a que isto chegou” e o estado a que se quer que isto chegue. Depois, deita-se mãos à obra porque, considera, “isto já não vai lá com cravos”.