Basílio Horta entende que a situação atual do país é 'perigosa para a democracia'

O novo presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, que derrotou um candidato independente nas eleições de setembro, considera que não existe democracia sem partidos políticos, mas defende que as estruturas partidárias devem mudar, para bem da democracia.

"O que é importante para o futuro é nós preservarmos a democracia, preservarmos a liberdade, não acreditarmos nos caudilhos e nos salvadores da pátria, porque não há, a pátria nunca se salva sozinha. É necessária uma alteração profunda nos hábitos e nos comportamentos dos partidos, até para se preservarem a eles próprios e ao próprio regime democrático. Mas isso é diferente do que combater os partidos", disse, numa entrevista à agência Lusa.

Basílio Horta, independente eleito na lista do PS que venceu as eleições autárquicas em Sintra com cerca de 1.700 votos a mais do que o candidato independente Marco Almeida, acrescentou que a democracia não assenta apenas nos partidos, mas não existe sem eles.

"A democracia não se esgota nos partidos, mas uma democracia sem partidos já tivemos aqui, no tempo de Salazar e de Marcelo [Caetano]. Mas já se percebeu que não é propriamente uma democracia pluralista e europeia como desejamos ter”, afirmou.

Basílio Horta, que toma posse na quarta-feira, entende que os independentes, “a começar” por ele próprio, têm “todo o direito e todo o espaço”. Contudo, disse, “o que é difícil é intervir politicamente sem os partidos”.

O também cofundador do CDS-PP e atual deputado da bancada socialista (também eleito como independente) considerou que as pessoas podem intervir e participar na política mesmo não concordando com os partidos existentes e podem também tentar mudá-los internamente, mudar as direções ou querer formar outros.

“Agora, já e mais complicado é dizer que não queremos partidos, ser contra os partidos, sem dar solução alternativa. Isso já é mais complicado", afirmou.

Basílio Horta entende que a situação atual do país é "perigosa para a democracia", uma vez que "os sacrifícios" que os portugueses atravessam face ao programa de austeridade "não são equitativos".

"A pobreza é má conselheira e a fome ainda é pior. Quando as pessoas empobrecem cada vez mais e não sentem que os sacrifícios são equitativamente distribuídos, aí é perigoso para a democracia, porque as pessoas deixam de acreditar em quem os governa", disse.

A partir desse momento, apontou, surgem vários perigos, “alguns incontroláveis”, como, por exemplo, “um dia surgir um salvador, alguém ou uma força que queira moralizar e arraste consigo”.

Referindo-se às políticas de austeridade seguidas pelo Governo PSD/CDS-PP e ao "vendaval de pobreza que assola o país", Basílio Horta considerou que "alguma coisa vai mal quando se bate tanto nos fracos e se poupa tanto os fortes".

"Este Portugal europeu começa a divergir do ideal europeu que todos tínhamos, que era o ideal da prosperidade, da segurança, da solidariedade. Este Portugal europeu que este Governo e esta ‘troika’ estão a construir é um Portugal que não enobrece a Europa", afirmou.