O presidente da Câmara de Cascais acredita que a visita do Presidente da República ao Forte de Santo António da Barra, no passado sábado, vai acelerar a cedência do espaço ao município, cuja reabilitação está estimada em seis milhões de euros.
Carlos Carreiras, que já na passada semana tinha alertado para o avançado estado de degradação do antigo forte militar no Estoril, disse à Lusa que a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acompanhado pelo ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, vai dar um impulso ao processo de cedência do edifício à autarquia, que pretende torná-lo sede de duas instituições.
A visita de sábado, explicou Carlos Carreiras, que foi uma iniciativa do Presidente da República, serviu também para confirmar que as obras de recuperação, inicialmente orçadas em dois milhões de euros, têm agora um custo estimado, “numa avaliação ainda muito superficial”, de pelo menos seis milhões de euros, face às necessidades de intervenção na estrutura e na sua envolvente.
O autarca garantiu, no entanto, que tem condições para assegurar os custos e que assim que estiver concretizada a cedência administrativa do Forte de Santo António da Barra para o município – actualmente está sob a alçada do Ministério das Finanças – a autarquia tem equipas preparadas para dar início à intervenção, que deverá prolongar-se por um ano e meio. “Sei que o primeiro-ministro está também bastante interessado em resolver a questão. Acredito que é desta que as coisas se resolvem”, disse Carlos Carreiras.
O forte pode vir a ser a sede da BioMarine, uma organização que se dedica às estratégias ligadas ao mar, a nível mundial, e do instituto Political Forum, responsável pelas Conferências do Estoril.
O Forte de Santo António da Barra, edificado durante a ocupação filipina, teve um papel relevante no âmbito da Restauração da Independência (1640), constituindo um ponto importante do sistema de defesa marítima de Lisboa. Mais recentemente, foi utilizado pelo Colégio de Odivelas e, durante o Estado Novo, como residência de férias do ditador António Oliveira Salazar.
O edifício, situado numa escarpa junto à marginal de Cascais na zona de São João do Estoril, encontra-se abandonado e vandalizado: muitos grafitis foram pintados nas muralhas assim como nas dependências interiores, incluindo a capela, guaritas e nos quartos dos pisos superiores.
Os painéis decorativos de azulejos instalados no Forte de Santo António da Barra são alusivos aos Descobrimentos, mas a maior parte encontra-se vandalizada: desenhos com temas marítimos e estrofes de ‘Os Lusíadas’ de Luís de Camões e também um excerto de ‘A Mensagem’ de Fernando Pessoa.
A referência mais recente ao mar é o desenho do veleiro ‘Cutty Sark’ mas encontra-se no rótulo de uma garrafa de uísque estilhaçada junto a uma parede onde está colocada uma placa de mármore branco descerrada em Novembro 1973 pelo então Presidente da República, Américo Thomaz, que recorda que Salazar ocupou o forte “nos meses de Verão” entre 1950 e 1968.
A 3 de Agosto de 1968, uma queda no chão de pedra do forte de Santo António da Barra provocou um hematoma a Salazar e a consequente degradação do estado de saúde do ditador que viria a morrer em 1970.Junto ao portão do forte, uma das poucas frases perceptíveis pintadas por desconhecidos diz: “esta cadeira mata fachos”, escrita com tinta azul, a única referência política ao incidente que acabou por vitimar Salazar.
O portão do complexo tem um pequeno aloquete que aparenta ser novo e que impede a entrada de veículos, mas a rede ao lado das grades está cortada deixando o espaço exposto de dia e de noite.
“Da parte da Câmara estamos completamente impotentes e isso deixa-nos revoltados porque estamos a ver uma coisa que podemos fazer de forma positiva e, que, ao fim ao cabo, não podemos fazer nada”, lamentava o autarca de Cascais, ainda antes da visita de Marcelo Rebelo de Sousa ao local.
Lusa