As autarquias contribuíram para encontrar soluções para evitar uma rutura "social muito forte" num período recente do país, considerou hoje o presidente da Câmara de Cascais, notando que a proximidade dos municípios pode também ajudar a combater o populismo.
"Poucos terão essa perceção, mas nós estivemos à beira de uma rutura do ponto de vista social muito forte, e foram, de facto, as autarquias que se chegaram à frente a substituir o tal Estado social, que estava a falhar já de uma forma muito intensa", afirmou Carlos Carreiras.
O coordenador autárquico do PSD, que falava num almoço-debate em Lisboa, salientou que os governos deixaram de poder olhar para os problemas dos cidadãos e que, no caso português, os municípios "tiveram de absorver um conjunto de respostas que o Estado central não foi capaz de dar".
"Em termos municipais temos essa resposta, de identificar os problemas, de conseguir encontrar soluções para esses problemas e ao mesmo tempo estarmos muito mais atentos às várias oportunidades que surgem também nos nossos territórios e naquilo que é a nossa capacidade", frisou o também presidente do conselho geral da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).
O social-democrata defendeu ser "nas autarquias que melhor se combate o populismo e a própria demagogia", por o poder ser "mais escrutinável" e estar mais próximo, relançando um aspeto "fundamental para qualquer sociedade, que é a confiança".
Para Carlos Carreiras, é necessário "rejuvenescer a democracia", nomeadamente através da democracia participativa, porque são "cada vez menos os que vão por um voto numa urna".
O autarca notou que, nos dois anteriores Orçamentos Participativos, onde anualmente os munícipes podem escolher parte do investimento municipal para determinados projetos, teve mais votantes "do que todos os cidadãos [que] votaram há quatro anos atrás para eleger os representantes dos partidos que estão na câmara municipal".
"O que está a ser oferecido pela política é que não é aquilo que o cidadão quer consumir", vincou.
O presidente da autarquia assumiu ser "um grande defensor da descentralização", mas apesar de não concordar com a transferência de competências na área da segurança para os municípios, advogou que as cidades têm "de gerir as expectativas das pessoas", nomeadamente quanto ao terrorismo.
"Ao Estado central cabe comandar as estruturas de segurança, mas depois são as cidades, como temos visto infelizmente por todo o mundo, que sofrem a insanidade desses mesmos atentados", apontou Carreiras, preconizando, no entanto, ser indispensável "congregar esforços para encontrar soluções".
Nesse sentido, lançou uma "ponte" ao primeiro-ministro para a colaboração numa "plataforma do Conselho Municipal de Segurança", que junte todas as forças de segurança, permitindo preservar uma das principais "matérias-primas" do país, como os hotéis e a prestação de serviços.
"É uma estupidez do ponto de vista civilizacional aquilo que foi comunicado pelo presidente dos Estados Unidos, mas de facto nas autarquias, sendo um problema global, é um problema que as autarquias em conjunto têm capacidade para encontrar algumas respostas", criticou Carlos Carreiras, em relação às alterações climáticas e ao anúncio de Donald Trump de sair do acordo de Paris.
Na sua intervenção no almoço-debate do International Club of Portugal, o autarca de Cascais referiu ainda a necessidade de investir nas 'smart cities' ('cidades inteligentes'), para resolver problemas como a mobilidade, e que não há razão para não se ter uma 'smart nation', tirando partido das vantagens da tecnologia.
O dirigente social-democrata sublinhou ainda a necessidade da aposta na identidade nacional, com fator diferenciador, que permita aumentar o "poucochinho" de crescimento registado - que se terá iniciado ainda na governação PSD/CDS-PP -, apelando ao investimento em património desaproveitado: "O imenso mar e o capital da nossa língua, da lusofonia".