A Carris e o Metro de Lisboa perderam, entre 2009 e 2013, 65 milhões de passageiros, revelou hoje, em Lisboa, Rui Monteiro, coordenador do MUSP – Movimento de Utentes dos Serviços Públicos.
Ao intervir no Fórum Mobilidade e Sistema Metropolitano de Transportes: Direito à Mobilidade com Transportes Públicos Sustentáveis, que decorre no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Rui Monteiro começou por dizer que os “transportes públicos na Área Metropolitana de Lisboa não estão direcionados para aqueles que deveriam estar: os utentes”.
“Os transportes têm vindo, ao longo dos anos, a ser um bom negócio para algumas empresas privadas e são uma dificuldade que obriga à injeção de capitais nas empresas públicas, que reduzem os serviços prestados”, afirmou.
Segundo o coordenador do MUSP, entre 2009 e 2013, o Metro de Lisboa reduziu em 36% a sua oferta de serviço a nível nacional, a Carris em 21%, a STCP em 18% e a CP em 10%.
Nesses anos, registou-se ainda um aumento das tarifas no Metro em 70%, na Carris em 40%, na STCP em 30% e na CP em 20%.
Como consequência, a Carris perdeu 40 milhões de passageiros, o Metro 25 milhões e a CP 11 milhões.
“Temos um ciclo vicioso que importa quebrar. Os transportes têm de ser entendidos como prioritários. Não podem continuar neste modelo de gestão, onde há uma desarticulação absurda entre os diversos serviços de passageiros”, frisou.
Para Rui Monteiro, é necessária a modernização da linha ferroviária de Cascais e do Oeste, um aumento da rede do Metro, uma articulação entre operadores de transporte e uma tarifa plana na Carris, entre outros.
Ao tomar a palavra, o presidente da Transportes de Lisboa (‘holding’ que congrega Carris, Metro de Lisboa e Transtejo), Tiago Farias admitiu não ter gostado de ouvir aqueles números, que, no entanto, não desmentiu.
Afirmando que o sistema de transporte público tem de ser “credível, acessível e sustentável”, o responsável defendeu que, para se criar um “novo” sistema, “tem de se começar pelo princípio”.
“Está na hora de repensar tudo. Pensar numa forma não concorrencional entre os 18 municípios e gerir melhor a oferta”, frisou.
Tiago Farias sublinhou ainda que “não é possível um sistema de transportes públicos sem haver financiamento” por parte do Estado.
Na sua intervenção, Luís Cabaço, presidente da Antrop – Associação Nacional de Transportadores Rodoviários Pesados de Passageiros questionou “como se pode falar de serviço público se acabam com passes sociais, se reduzem a oferta, se havia ideia que podiam ser autossustentáveis”.
“Como se promove o transporte público quando houve uma política de incremento exageradíssimo do tarifário como houve em Lisboa com o passe navegante?”, acrescentou.
Para a representante da Fectrans – Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, Anabela Carvalheira, a pretensão de concessão do anterior Governo teve como resultados uma “acentuada degradação do serviço público prestado, o corte da oferta, o afastamento dos utentes, a eliminação de milhares de postos de trabalho e redução de direitos adquiridos”, entre outros.
“As empresas deixaram de ter condições humanas e técnicas para responder aos desafios do dia-a-dia”, afirmou.
Para o futuro, a sindicalista defendeu a criação de uma Autoridade Metropolitana de Transporte, que envolva autarquias, Governo, trabalhadores e passageiros.
Anabela Carvalheira defendeu ainda a necessidade de existirem indemnizações compensatórias porque o “pagamento do serviço público é uma responsabilidade do Estado”.