Os 111 anos do nascimento do compositor Fernando Lopes-Graça dão mote a uma programação a partir de julho que inclui palestras, simpósios, recitais e exposições, no concelho de Cascais, a quem o músico doou o seu espólio.
As diferentes iniciativas contam com a participação, entre outros, do compositor Sérgio Azevedo, que foi amigo de Lopes-Graça, dos pianistas António Rosado e Nuno Vieira de Almeida, do musicólogo Mário Vieira de Carvalho e do Moscow Piano Quartet.
A programação abre no dia 07 de julho com a conferência “Fernando Lopes-Graça em três momentos políticos (1937-1945-1974) - Escuta de obras e debate a quatro mãos”, com Manuel Deniz Silva e Pedro Rodrigues, na Casa Verdades de Faria-Museu da Música Portuguesa (MMP), no Monte Estoril, em Cascais.
No dia 13 de julho, realiza-se um recital pelo pianista António Rosado, comentado por Sérgio Azevedo, nas Casas do Gandarinha-Centro Cultural de Cascais, do qual fazem parte obras de Debussy e a Suite n.º 5 “in memoriam Béla Bartók", de Lopes-Graça.
Em declarações à agência Lusa, Sérgio Azevedo, que foi um dos últimos alunos de Lopes-Graça e se assume como seu discípulo, lamentou que “as grandes obras corais e sinfónicas do compositor estejam ausentes da programação das principais salas de concerto” e referiu que, apesar de “ser um dos compositores mais recuperados em termos teóricos, não existe ainda uma biografia completa sua”.
No decorrer desta programação comemorativa, entre outras iniciativas, irá ser apresentada, no dia 18 de setembro, na Casa Verdades Faria-MMP, uma fotobiografia de Fernando Lopes-Graça (1906-1994), da autoria de Mário Vieira de Carvalho, Manuel Deniz Silva e António de Sousa.
No mesmo dia é inaugurada naquele museu uma exposição fotográfica alusiva ao compositor, natural de Tomar, autor, entre outras peças, das Canções Heroicas, com poemas, entre outros, de José Gomes Ferreira, Cochofel, Carlos de Oliveira e Armindo Rodrigues.
O compositor, falecido na vila da Parede, no concelho de Cascais, deixou em testamento todo o seu espólio à Câmara Municipal de Cascais para ser incorporado no MMP.
Lopes–Graça “tem sido um dos compositores mais recuperado em termos teóricos, têm aparecido livros, há o catálogo da obra, vai surgir a fotobiografia, o MMP tem feito um trabalho extraordinário, têm sido editadas partituras de peças suas, pequenos conjuntos e pianistas têm tocado peças suas, e têm sido gravados CD com obras suas, continua a falta a grande programação orquestral”, disse Sérgio Azevedo.
“Na grande programação da Gulbenkian, S. Carlos, Centro Cultural de Belém, Casa da Música, não aparece uma obra de Lopes-Graça para orquestras, coro e orquestra. As suas grandes obras, fundamentais para a música portuguesa, continuam infelizmente, longe das programações das temporadas mais importantes”, sublinhou.
Esta iniciativa, em Cascais, “pode ser que contribua para que isto comece a mudar, porque realmente, é um problema que já vem de há muitos anos”.
“É raríssimo encontrar uma peça do Graça para orquestra ou para coro e orquestra, o Requiem, por exemplo”, assinalou Sérgio Azevedo recordando que a última vez que se ouviu uma peça para orquestra de Lopes-Graça foi há dez anos.
Esta programação inclui palestras, debates, conferências-recital, como a que se realiza no dia 28 de setembro, nas Casas do Gandarinha, em Cascais, “Fernando Lopes-Graça: o diálogo entre a música e a poesia”, com o pianista Nuno Vieira de Almeida, a soprano Susana Gaspar e o investigador Tiago Manuel da Hora.
A programação inclui, no Centro Cultural de Cascais, um concerto pelo Coro Lopes-Graça da Academia de Amadores de Música, sob a direção do maestro José Robert, com o pianista Fausto Neves, no dia 26 de outubro, uma conferência-recital de apresentação do projeto discográfico “Fernando Lopes-Graça: Songs and Folksongs”, com o pianista Nuno Vieira de Almeida, a soprano Susana Gaspar, a meio-soprano Cátia Moreso e o tenor Fernando Guimarães, no dia 26 de outubro, e o simpósio “Fernando Lopes-Graça em retrospetiva”, nos dias 15 e 16 de dezembro.
As celebrações encerram no dia 17 de dezembro com um concerto pelo Moscow Piano Quartet, em que será estreada uma peça de Sérgio de Azevedo e a obra distinguida com o Prémio Internacional de Composição Fernando Lopes-Graça/2017, que será entregue ao vencedor.
Segundo Sérgio Azevedo, esta é uma iniciativa que as entidades responsáveis, Fundação D. Luís I e Câmara de Cascais, “pretendem que vá continuar”.