Comboios mais novos da Linha de Cascais estão obsoletos

Os comboios mais recentes da Linha de Cascais têm 30 anos, "idade limite para comboios suburbanos", o que leva a que este material esteja obsoleto e necessite de ser substituído, considerou hoje Manuel Tão, especialista em transporte ferroviário.
Dois comboios descarrilaram hoje de manhã na Linha de Cascais, no sentido Cascais - Cais do Sodré, sem causar feridos, o que ainda está a provocar condicionamentos na circulação. CP e REFER (Rede Ferroviária Nacional) estão a averiguar as causas dos incidentes.
Contactado pela agência Lusa, o especialista em transporte ferroviário da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve Manuel Tão recordou que a Linha de Cascais tem uma "eletrificação precoce", de 1926, data do material originário que circulava nesta ligação.
No circuito entre Cascais e o Cais do Sodré (Lisboa) circulam composições dessa época, modernizadas em termos de carroçaria, além de outras datadas do início da década 1960, da década de 1970 e, "finalmente, o material mais jovem", que data de 1983.
"O material mais jovem tem 30 anos, que é considerado o limite de idade para o material ferroviário suburbano. Está obsoleto. Há aqui muitos problemas a resolver a nível de material circulante", afirmou Manuel Tão.
O professor universitário explicou que essa eletrificação "num sistema que deixou de ser estandardizado impede que possa haver cascata de material. Isto é: um recurso ao material circulante de outra rede, que possa ser afetado à Linha de Cascais".
Manuel Tão adiantou que a REFER - responsável pela linha - "tem vindo progressivamente a renovar a infraestrutura física da eletrificação num novo sistema" e que a catenária "está praticamente toda adaptada para o resto da rede".
No entanto, disse, "não há material circulante que aceite ser alimentado por esse novo sistema", uma vez que não aceita um aumento de carga elétrica para o que existe no resto da rede.
Além disso, acrescentou o especialista, "não há excedente de material que permita suprir as necessidades da Linha de cascais", o que permitiria uma mudança de material para circulações que "nunca seriam novas", mas estariam "menos obsoletas".
Manuel Tão disse ser necessário aguardar por mais elementos para concluir que os dois descarrilamentos de hoje se deveram à antiguidade do material, mas admitiu que um descarrilamento tenha provocado o outro, nomeadamente por ter danificado a linha.
"Há uma coisa que se tem de referir: existam ou não incidentes é difícil conceber a contiguidade de uma exploração de uma linha suburbana - que transporta cerca de 40 milhões de pessoas por ano - com material com este nível de obsolescência", considerou.
O professor admitiu que possa vir a existir um quotidiano de uma linha suburbana "pouco confiável", o que pode aumentar o recurso ao automóvel privado.
Segundo a REFER, o primeiro comboio acidentado procedia de Cascais com destino ao Cais do Sodré e descarrilou em Caxias por volta das 08:30. O segundo comboio descarrilou em Algés entre as 08:40 e as 08:50 e tinha partido de Oeiras, também com destino ao Cais do Sodré.