Comércio critica mobilidade no centro de Almada

Nos últimos dez anos quase metade das lojas do comércio local no perímetro de Almada Centro encerraram. As contas estão retratadas num relatório elaborado pela Delegação de Almada da Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS), apresentado na passada semana, e que é tido pelas forças políticas eleitas no concelho como credível.

Segundo a associação, no eixo central da cidade, que chegou a ser alvo do projecto “Almada centro Shopping e Lazer” desenvolvido em parceria com a autarquia, a contagem aproximava-se dos “500 espaços comerciais”, mas até Janeiro de 2012 o estudo apura que “encerraram 240 espaços comerciais”, o que “implicou directamente a perda de 500 postos de trabalho”. Para o presidente da Delegação de Almada, Gonçalo Paulino, este estudo “prova que a situação não pode ser apenas justificada com a actual crise económica” e atribui responsabilidades “ao Plano de Mobilidade XXI implementado pela Câmara de Almada”.

O relatório teve por base 213 questionários, distribuídos no primeiro trimestre deste ano, abrangendo um universo representativo de todos os agentes económicos com porta aberta em Almada Centro. A estes correspondem 112 estabelecimentos de comércio a retalho; 29 de hotelaria e restauração; 13 de cabeleireiro e estética; 2 farmácias; 6 imobiliárias; 43 de serviços, instituições bancárias e seguradoras; 8 serviços de saúde. Verifica-se que neste perímetro cerca de 52,58 por cento dos inquiridos são agentes de comércio a retalho, sendo os serviços a segunda actividade mais representativa em Almada Centro.

Com um total de oito questões o inquérito pretendeu apurar várias conclusões desde a situação do negócio, a afluência de pessoas a este eixo, desde que começaram as obras do metro até ao momento em que este funciona em pleno, o estacionamento, a pedonalização de parte deste eixo, a proibição de circulação automóvel e as novas regras de estacionamento.

De uma forma global os agentes do comércio e serviços locais estão descontentes. A maioria aponta que o volume de negócios diminui, enquanto 89,67 por cento afirma que a afluência de pessoas em Almada Centro teve uma quebra desde a aplicação do Plano Mobilidade Acessibilidades XXI. O inquérito apurou ainda indicadores expressivos, pela negativa, quanto à satisfação das pessoas relativamente aos impedimentos de circulação automóvel e à falta de estacionamento.

O estudo reflecte também a opinião dos agentes económicos locais que apontam seis medidas para melhorar a vida na cidade. Estas passam, entre outras, pela abertura ao trânsito no canal Centro Sul-Cacilhas assim como do acesso directo à Avenida Cristo Rei. Pela racionalização da actuação da ECALMA, promoção dos espaços comerciais da cidade e criação de protocolos com empresas de transportes de turistas.

Aliás, a falta de medidas para atrair turistas à cidade é uma das críticas apontadas pelo presidente da ACSDS. “Em Almada não há sinalética a dirigir os turistas para o centro da cidade”. Ao mesmo tempo Francisco Carriço não entende por que razão “a Câmara de Almada deixou de ouvir os comerciantes”, inclusivamente lembra um estudo conjunto entre a autarquia e a associação elaborado “há cerca de dez anos, que foi abandonado”. Um estudo que entre várias propostas definia acções de dinamização da cidade. “Se nos ajudarem [autarquia] temos capacidade para apresentar ideias tanto para dinamizar o centro da cidade de Almada como da cidade da Costa da Caparica”.

A isto Gonçalo Paulino acrescia que a Delegação de Almada “já apresentou várias sugestões para melhorar a circulação na cidade”, inclusivamente “à equipa que está a elaborar a revisão do Plano Director Municipal” mas “não nos dão importância”. Para o presidente da Delegação de Almada “já não há tempo para mais experiências com a mobilidade de Almada, é precisar resolver”.