O projeto de visitas guiadas no Alto da Cova da Moura, na Amadora, “mudou o bairro” e atrai sobretudo estudantes de universidades e centros de formação no estrangeiro, que regressam à comunidade à procura das ofertas do comércio local.
Paulo Reys, estudante da Universidade de Girona, em Espanha, que conheceu o bairro recentemente, realça “a atmosfera tranquila” e a forma “nada hostil” com que os moradores recebem os visitantes.
O estudante colombiano, a residir em Espanha há cerca de dez anos, compara “as realidades que conhece”, referindo que o bairro da Cova da Moura “é menos degradado e mais desenvolvido” quando comparado com os bairros de lata colombianos.
Sobre as visitas guiadas no âmbito do projeto Sabura - Turismo na Cova da Moura, Paulo Reys considera ser “um intercâmbio positivo” para visitantes e anfitriões, já que, em seu entender, há uma troca de experiências e uma partilha de conhecimentos relativamente aos projetos desenvolvidos neste tipo de comunidades.
O projecto Sabura, expressão crioula que significa "saborear", desenvolve visitas que pretendem mostrar que a realidade é bem diferente daquela que muitas vezes é noticiada.
Pretende-se mostrar o quotidiano e a dinâmica social do bairro, o seu património cultural e humano, a sua riqueza étnica e a integração na comunidade onde está inserida esta população.
Cerca de 40% das pessoas que visitam o bairro fazem-no através de uma instituição de ensino, sobretudo universidades, motivadas por um interesse académico pelo projeto Sabura e pela comunidade.
O projeto, que envolve visitas guiadas e que pretende mostrar a multi-culturalidade do bairro, foi criado há nove anos, por dois estudantes de turismo e moradores do bairro, para atrair visitantes com o intuito de alterar o estigma negativo associado à criminalidade, pela qual a Cova da Moura é conhecido.
Heidir Correia, mentor do projeto e morador do bairro, afirma à agência Lusa que há muitos visitantes que mostram ter “um interesse pessoal pelo projeto e pela comunidade”, e que inclusivamente esse número “está a aumentar”.
A Associação Moinho da Juventude desenvolve projetos de apoio social na comunidade e estabelece parcerias com instituições europeias, principalmente universidades e organizações não-governamentais, entre as quais a Universidade de Bruxelas, na Bélgica.
As parcerias criadas geram oportunidades de estágio, no âmbito de programas académicos como o Leonardo Da Vinci, e de programas de voluntariado, que culminam numa intervenção ativa por parte dos estagiários e voluntários, nomeadamente com a recuperação de casas e espaços recreativos do bairro.
Segundo Heidir Correia, o bairro mudou e os moradores “sentem essa mudança”.
“Temos 31 salões de cabeleireiro, 28 restaurantes, mercearias e cafés em cada esquina que têm tido muitos clientes de fora”, destacou.
Os visitantes podem saborear várias gastronomias tradicionais, essencialmente africanas, visitar as mercearias com produtos e sabores exóticos, os cabeleireiros e as lojas de artesanato de uma comunidade multi-cultural plena de saberes e de vivências.
E muitas vezes os visitantes regressam ao bairro para conhecer melhor a comunidade.
“Ainda hoje encontro-me com pessoas que vieram pela primeira vez, no âmbito do projeto Sabura e que voltam com amigos para jantar, almoçar, ficam pelos bares, visitam novamente o Moinho…”, garante Heidir Correia.