Crise afecta Feira das Mercês

Praticamente concluída a 241.ª edição da Feira das Mercês (acaba no Dia de Todos-os-Santos), avolumam-se as dúvidas sobre o futuro do tradicional e secular certame. O número de feirantes reduz-se de ano para ano – desta feita, não foram mais que 75, uma quebra de 30% face a 2011 (que já registara menos quase 50%) – deixando muitos espaços vazios. Genericamente, comerciantes, organização e povo convergem em que o princípio do fim se acentuou há cerca de quatro ou cinco anos atrás. Falam em “fraca divulgação”, “má vontade” por parte de quem poderia dinamizar o evento, peso “excessivo” das taxas cobradas, o projecto de requalificação que não sai da gaveta… Para concluírem que, assim, torna-se muito mais difícil enfrentar a pior maleita de todas: a falta de dinheiro nos bolsos do povo.
“O ano passado, a feira deu prejuízo pela primeira vez (mais de 4000 euros) e este ano não está melhor…”, desabafava ao JR Aníbal Silva, tesoureiro da Associação de Solidariedade Social das Mercês, organizadora da feira, com o apoio da Câmara de Sintra e das Juntas de Rio de Mouro e de Algueirão-Mem Martins.
Como tantas coisas na vida, só depois de a Feira das Mercês se finar é que será sentida verdadeiramente a sua falta. Para já, ainda ela subsiste e já as saudades são muitas. Não da feira de hoje, mas daquela que existia há dezenas de anos, em que os visitantes mal podiam caminhar tal era o mar de gente. Por isso, à mesa do almoço ou jantar, em frente aos pratos de barro fumegantes com a famosa Carne às Mercês, as conversas vão dar, amiúde, a esses bons velhos tempos que, com benevolência, ainda conseguem chegar até há meia dúzia de anos atrás…
“Lembro-me de vir cá às cavalitas do meu pai, tinha eu seis ou sete anos”, emociona-se Francisco Galamba, de 64 anos, morador em Queluz, a almoçar sozinho. “Mas isto agora é um vazio que se sente na alma, nem a polícia tem nada para fazer”, lamenta, com a lástima agravada pelo preço da refeição. “Uma sopa a 300 escudos?! Uma garrafinha de vinho a mil escudos?”…