O 'motard' Paulo Gonçalves, que durante quatro etapas liderou o Dakar2016, que abandonou devido a uma queda, formulou hoje o desejo, entre críticas à organização do rali todo-o-terreno, de começar a trabalhar para fazer melhor na próxima edição.
À chegada ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, onde várias dezenas de apoiantes o esperavam, Paulo Gonçalves reconheceu que ainda hoje não sabe porque é que sofreu uma dupla penalização na etapa maratona, em que teve alguns problemas.
"A organização achou que a primeira penalização não era suficiente para me afastar da luta e a segunda, essa sim, era suficiente para em afastar do pódio e foi o que acabou por acontecer", disse Paulo Gonçalves, reconhecendo que foi obrigado a arriscar.
O piloto natural de Esposende, de 36 anos, recordou que entrepôs recurso à penalização, mas do qual desconhece o resultado, dado, entretanto, ter sofrido a queda que o deixou inconsciente e que o obrigou a abandonar e a regressar mais cedo.
"Senti-me prejudicado, porque deixei de poder discutir uma posição no pódio, e tentei arriscar mais, dado que havia pouco para proteger. Tentei ganhar etapas, porque as prioridades ficaram alteradas, mas foi uma estratégia que não correu bem", adiantou.
Paulo Gonçalves, que conquistou o segundo lugar na edição de 2015 do rali e que se sagrou campeão mundial de todo-o-terreno em 2013 e vice em 2014, reconheceu que foi esse arriscar que ditou o acidente e o abandono, mas defende que não se arrepende de praticamente de nada do que fez nesta corrida.
"As coisas estavam bem encaminhadas. Estive quatro dias na frente, cheguei ao dia de descanso na liderança, mas a queda no primeiro dia da segunda semana de competição e, posteriormente, o problema no motor afastaram-me praticamente da possibilidade de vencer", considerou.
O piloto reconheceu que, face às contrariedades sofridas, mudou um pouco a estratégia, correndo mais riscos, mas tal acabou por não dar bom resultado, pois acabou por cair, com perda de consciência, e a ter que abandonar.
"Acabei por não poder terminar, mas é bom poder regressar e contar estas histórias e poder, muito em breve, voltar ao trabalho e no próximo ano trazer a alegria que este ano não trouxe", adiantou.
Para Paulo Gonçalves, "o Dakar é um desafio constante e um sonho".
"Temos de nos superar todos os dias. Esta foi a minha décima participação e nenhuma foi igual. Isso diz muito da prova", frisou.
O piloto luso esteve ainda em destaque ao parar a sua Honda durante o trajeto para socorrer o acidentado Matthias Walkner, seu adversário da KTM, numa altura em que ainda liderava a prova, dando mostras de raro 'fair-play'.
"Qualquer um teria feito o mesmo. É uma situação relativamente normal. Outros já me ajudaram em situações idênticas e ali foi um ato normal e natural. É a magia do Dakar", sublinhou.
Apesar da desistência, o piloto luso assegurou ter regressado com o sentido de dever cumprido, quase justificando a receção calorosa no aeroporto.
"Sentiram que dei o meu máximo e não se sentiram desiludidos. Acho que se sentiram orgulhosos de mim e de todos os portugueses. Não houve nenhuma desilusão de entre todos os portugueses que estiveram este ano no Dakar", finalizou.