Dezenas de manifestantes contra encerramento dos CTT em Cacilhas

Cerca de 60 pessoas, sobretudo reformadas, concentraram-se na terça-feira em frente à estação de correios de Cacilhas, em Almada, em protesto contra o encerramento do espaço, decisão que os CTT garantem que terá um “impacto nulo” na vida da população.
Para quem esta manhã deu corpo à plateia da “tribuna pública de protesto” organizada pela Junta de Freguesia de Cacilhas, encerrar esta estação é, resumiu o presidente, Carlos Leal (CDU), somar passos à distância “que se vem criando entre o povo e os serviços públicos”.
“Esta é uma estação de qualidade, com boas acessibilidades, que serve bem a população. Encerrar este espaço é persistir na lógica de afastamento dos serviços públicos das pessoas, é seguir uma lógica comercialista”, disse à agência Lusa o autarca.
Na perspetiva da empresa, o que está em causa é, não o encerramento daquela estação, mas a “transferência” dos serviços prestados em Cacilhas “para as estações vizinhas de Almada e da Cova da Piedade”, que se localizam, respetivamente, a 1,5 e 1,7 quilómetros de distância.
Assim, os CTT estimam que "o impacto desta transferência seja nulo para a população”, e garantem que não haverá despedimentos.
A empresa justifica esta decisão com o “sobredimensionamento da oferta dos correios nesta área”, argumentando que, entre 2007 e 2011, a estação perdeu quatro em cada dez clientes.
Em frente ao pequeno palanque, e enquanto o presidente da junta discursa, quatro reformadas explicam à Lusa que elas – sexagenárias – são um retrato da freguesia e que, por isso, deixar de poder contar com aquele posto “à mão de semear” vai complicar a vida aos cacilhenses.
“Esta é uma freguesia envelhecida [um terço da população da freguesia tem 65 ou mais anos, segundo o INE]. A junta de freguesia vai ser extinta, não usamos internet nem multibanco, como é que a gente paga a água e a luz e levanta as reformas?”, questiona-se Francisca Arsénia, a falar também pelas três amigas.
Esta reformada, natural de Baleizão, no concelho de Beja, lembrou ainda – com as amigas a anuir – que, “para quem já não tem pernas novas”, mesmo “uma distância que parece curta é longa”.
“Os transportes são caros”, acrescentou, lembrando que uma viagem de autocarro, que precisaria de fazer para se deslocar à freguesia da Cova da Piedade, ultrapassa os dois euros, e que uma viagem de metro, que usaria para se deslocar à estação dos correios de Almada, é quase um euro: “Agora veja lá se é justo eu ter que pagar para ir levantar a miséria de reforma que tenho, que é de 300 euros”, concluiu.
João Vieira, também reformado, também no protesto, explicou que o encerramento desta estação é “mais um de muitos” que têm acontecido na freguesia: “Isto parece um caso menor, mas já tem antecedentes. Vão levando tudo daqui, fechando tudo. Isto é um retrocesso civilizacional”, defendeu.
Na tribuna pública falaram também representantes da Câmara de Almada (CDU), do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações, do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, e o presidente da Junta de Freguesia do Feijó.
Em resposta à agência Lusa, os CTT afirmaram também que ainda não está definida a data para a “transferência” dos serviços da estação de Cacilhas, sublinhando que esta mudança “em nada afeta”, também, “a normal distribuição feita pelos carteiros, que continua a ser garantida todos os dias, nos mesmos moldes, com os mesmos giros e pelos mesmos profissionais”.