Após vários anos e muitas promessas não concretizadas, o espaço do antigo Hotel Nau, junto à estação de Cascais tem finalmente o seu futuro decidido. Ali vai nascer o edifício D. Pedro destinado a habitação, comércio e serviços, entre os quais uma Guest House com vinte quartos e uma unidade de saúde.
Abafada em termos mediáticos pela campanha eleitoral para as autárquicas, a escritura de compra e venda assinada pela Câmara de Cascais, através da empresa municipal Cascais Próxima, e a sociedade privada Inovar Cascais, realizada no passado dia 6 de Setembro, abriu caminho para a solução de um problema antigo, considerado mesmo um dos pontos mais negros da vila de Cascais.
A história do velho Hotel Nau, situado na rua Iracy Doyle, junto à estação de Cascais, está prestes a ser encerrada, com a demolição total do antigo edifício para dar lugar a um novo projecto capaz de contribuir para a conclusão da requalificação de toda aquela entrada na vila.
Vencedora do concurso de ideias lançado pelo município para o espaço e cujo resultado foi anunciado em Março de 2017, a empresa Inovar Cascais, entre outros, ligada aos empresários e jurados do programa “Shark Tank”, Miguel Ribeiro Ferreira e Tim Vieira, vai ali investir mais de 14 milhões de euros na construção de um edifício de apenas três andares. O novo projecto deverá estar concluído dentro de 18 meses, integrando zona residencial, uma pequena unidade hoteleira com vinte quartos, espaços de comércio e restauração e ainda uma clínica.
“Todos os obstáculos foram ultrapassados e em breve teremos toda aquela zona do largo da estação requalificada. A entrada de Cascais vai, finalmente, ter a dignidade que merece, num processo em que a Câmara Municipal de Cascais conseguiu reduzir em 20% a altura e volumetria do projeto inicialmente aprovado para aquele espaço", destaca Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais.
Acreditando ser o D. Pedro “um empreendimento de referência”, Tomás Champalimaud, da Sociedade Inovar Cascais, espera ter o edifício totalmente a funcionar dentro de 18 meses. “O Edifício D. Pedro terá duas lojas grandes que espera que atraia um comércio de qualidade, uma vertente habitacional e alojamento local”, confirma.
A demolição do "mono" situado à entrada da vila é o culminar de quase duas décadas de avanços e recuos, marcadas por incumprimentos em relação às áreas de construção autorizadas e por um complexo processo judicial.
O Hotel Nau ocupava uma área coberta de 768 m2, depois de vários acrescentos que desrespeitavam o projecto aprovado em 1997. Em 2004, o promotor, a sociedade imobiliária Nauinvest, requereu para o local, depois de demolir o anterior imóvel, o licenciamento de um edifício de comércio, serviços e habitação. O projecto foi aprovado pelo então presidente da câmara, António Capucho, em Novembro de 2005, que autorizou a construção de 5.913 m2 em cinco pisos acima do solo.
Em 2007 o Ministério Público (MP) embargou a obra, na sequência de uma acção administrativa que pedia a nulidade da licença de construção, alegando que o novo edifício era um “elemento dissonante da envolvente local” e violava de forma “grosseira” o Plano Director Municipal.
Seguiram-se várias acções em tribunal, com a câmara a contestar a acção do MP e o promotor a pedir que fosse autorizado o prosseguimento dos trabalhos, o que só aconteceu em 2010. Pelo meio, a empresa titular do alvará abriu falência e os créditos ficaram com o BPN. A falência do banco afectou ainda mais o processo, segundo o actual presidente da autarquia.
Em 2013, a câmara aprovou a demolição da estrutura do edifício já construída. Nessa altura, a Nauinvest apresentou uma nova proposta para a construção de um hotel com menor volumetria do que tinha pedido anteriormente, mas o PS opôs-se e ameaçou apresentar uma providência cautelar. "O investidor não quis correr riscos e desistiu do investimento", diz Carlos Carreiras, acusando os socialistas de "irresponsabilidade".