Gestifúnebre admite intenção de preparar e conservar cadáveres, mas recuou no projecto.
A possibilidade de haver um tanatório – espaço que permite a prática da tanatopraxia, ou seja, um conjunto de técnicas de tratamento e preparação de cadáveres para os rituais fúnebres – a laborar no meio de um denso parque habitacional e no mesmo edifício onde funciona o Mercado Municipal de Carnaxide inquietou um conjunto de moradores daquela zona. “Ninguém gosta de ter uma actividade destas à sua porta, mas paredes-meias com um mercado e restaurantes então ainda mais incompreensível se torna” , disse ao JR um dos queixosos, manifestando o receio de que “ não sejam devidamente controlados os líquidos e vapores que o tratamento de corpos implica, para além do incómodo visual que provoca...”. Os munícipes que se sentiram afectados fizeram chegar as suas preocupações à Assembleia de Freguesia de Carnaxide, bem como à Câmara Municipal, inclusive por intermédio de um abaixo-assinado.
O assunto acabaria por ser abordado em recente sessão da Assembleia Municipal de Oeiras, com vários deputados a pedirem mais informações. O vice-presidente da autarquia, Paulo Vistas, confirmou que os serviços camarários competentes haviam concluído pela não existência de condições para licenciar aquele tipo de actividade e que a Polícia Municipal terá notificado o estabelecimento em causa.
Entretanto, o JR contactou a empresa que arrendou instalações no edifício do Mercado Municipal, concretamente um piso inteiro para loja de atendimento ao público e o piso superior para armazém, onde ficam três carros fúnebres e outros dois de apoio ao domicílio. Amílcar Costa, responsável da Gestifúnebre, confirmou que houve, inicialmente, a intenção de implantar ali um sistema de tratamento e conservação de corpos, incluindo lavagem e limpeza dos cadáveres e sua manutenção em arcas frigoríficas. “Mas nunca algo como fazer autópsias, como chegaram a dizer! Era apenas uma resposta para um problema que acontece a muita gente: quando um ente querido falece as pessoas não querem ficar com o corpo em casa porque aumenta o sofrimento, mas se é de noite ou se as igrejas estão fechadas ou ocupadas é complicado e aqui teríamos todas as condições para preparar os corpos adequadamente, enquanto se procurava solução” , explicou, concluindo: “Começámos a ouvir burburinho e resolvemos recuar nesse projecto, não queremos ir contra as pessoas, embora suspeite que talvez mudem de opinião se um dia passarem por essa necessidade”.
Segundo garantiu o mesmo responsável, a empresa possui licença para loja e para armazém, serviços que presta actualmente. O piso para atendimento ao público é “perfeitamente normal, só tem vidros escuros porque é muito exposto ao sol, não é para esconder nada” .
Amílcar Costa adiantou, ainda, que centralizou nas instalações de Carnaxide os serviços administrativos e as viaturas das outras três empresas que pertencem ao grupo (Linda-a-Velha, Queijas e Paço de Arcos). “Não vêm corpos para aqui!” , assegurou.
Jorge A. Ferreira