Mário Augusto volta a abrir o baú das recordações e lança ‘Caderno Diário da Memória’
Lembra-se da régua de furinhos (palmatória), chamada de ‘menina dos cinco olhos’, que era usada em quem não sabia a tabuada de trás para a frente? Ou da nota de 20 escudos (com a imagem de Santo António) que, hoje em dia, só permitiria comprar uma pastilha elástica?
São estas e muitas outras recordações daqueles que cresceram e viveram nas décadas de 60, 70 e 80 que fazem parte do novo livro do jornalista Mário Augusto, um dos expoentes da divulgação do cinema, que foi dado à estampa pela Bertrand. ‘Caderno Diário da Memória’ é a sequela de ‘A Sebenta do Tempo’, lançada em 2016, e que partiu de um desafio da editora. Nos primeiros apontamentos, Mário Augusto sentiu que tinha gasto os cromos todos, com a ajuda de amigos, “uma série de jovens da minha geração, uns carecas, outros de cabelo branco”, nascidos na década de 60.
Com 54 anos, o jornalista e apresentador foi obrigado, para este segundo livro, “a escavar mais para descobrir mais histórias”. Mas, para além disso, confessa: “expus-me mais”. A nova obra assume “um cruzamento de histórias com coisas pessoais”, incluindo as ‘gaffes’ que coleccionou ao longo de 28 anos de carreira, como num jantar em Londres, em 1986/87, quando foi enviado para entrevistar James Bond. As ‘gaffes’ são encaradas com naturalidade no livro e até no dia-a-dia: “a melhor forma de estar na vida é termos a capacidade de rir de nós próprios”.
‘Caderno Diário da Memória’ é, assim, um conjunto de “recordações, enquanto o Alzheimer não nos ataca, com o cruzamento de factos e acontecimentos muito importantes” para uma geração que, nesse tempo, vivia sem pressa: “Tínhamos tempo para brincar na rua, para usufruir de um brinquedo, porque não havia dinheiro para dois, e isso explorava-se de uma maneira entusiasmada e sentida”.
Com mais de duas mil entrevistas ligadas à ‘sétima arte’, Mário Augusto iniciou a vida de jornalista em ‘O Comércio do Porto’ e, no pequeno ecrã, deu os primeiros passos na RTP, pelo meio foi um dos fundadores da SIC, mas voltou ao canal público, onde, actualmente, coordena o projecto ‘Academia RTP’, destinado a formar e descobrir novos criadores de audiovisual.
No baú das memórias que recorda no livro, a televisão é, naturalmente, um dos pontos fortes, com a recordação dos filmes das matinés de fim-de-semana onde pontificavam o Tarzan e os ‘índios e os cowboys’, sem esquecer as séries de culto como ‘O Santo’, com Roger Moore, ou a saga familiar de Dallas. Em Portugal, Mário Augusto evoca Maria Leonor, “uma senhora de grande classe”, que foi a primeira a entrevistar Walt Disney, aquando de uma passagem por Lisboa, mas também Júlio Isidro, “estrela de TV e da rádio, mas nunca da cassete pirata”. Mas, também se fala do pequeno Calimero e de um noticiário para adolescentes, ‘A Bota das Sete Léguas’, onde Manuel Luís Goucha, aos 20 anos, iniciou a carreira e também entrou o jovem António Costa (com 16 anos)... “que desistiu de jornalismo para se tornar político e hoje é o primeiro-ministro de Portugal”.
Este livro é “uma caderneta de cromos”, realça o autor, “com histórias soltas, que vos vão avivar a memória para outras situações”, mas também permitir às novas gerações ficar a conhecer outros tempos. Aliás, os mais novos já apreciam com outros olhos as coisas antigas. Mário Augusto conta a história de um amigo que mostrou ao filho a sua velhinha máquina de escrever e disse: “‘Quando andava na faculdade, era com isto que eu escrevia. Metia-se aqui uma folha, um gajo carrega aqui...’. E o miúdo respondeu: ‘Isso é bué fixe, esse computador é porreiro, porque escreve e imprime ao mesmo tempo”.
Entre as memórias que integram o livro, “em que cada página é uma história: tem princípio, meio e fim, é como um filme”, o jornalista recorda os momentos passados “a tratar das coisas do coração” e as voltas que o mundo dá: “Tive que ir ao cardiologista e não é que a clínica de cardiologia fica, precisamente, no mesmo espaço da discoteca da minha juventude e eu, de repente, vejo-me na pista de dança à espera do electrocardiograma”. Nesses tempos antigos, o destaque recaía nos ‘Slows e mordidelas no pescoço’.
“Escrevi com paixão e entusiasmo”, salienta Mário Augusto, que vive desde sempre em Espinho, à beira-mar, embora confesse que não goste de praia. Os retoques finais deste livro, aliás, foram escritos no último Verão, aquando das férias em Marrocos, onde, caprichosamente, “choveu oito dias, permanentemente, e tive o tempo todo a escrever e ninguém me chateou: ‘então, não vamos para a praia?’”.
O humorista Nilton apresentou o livro em Lisboa e considerou que “este ‘Caderno Diário da Memória’ é um bocadinho a frase do Rodrigo Guedes de Carvalho, quando termina o Jornal da Noite (SIC): ‘O País e o Mundo’. Este livro é o país e o mundo: desde o Licor Beirão até à Famel (motorizadas)”. Para Nilton, o livro “é uma enciclopédia de cultura geral, com bonecos, e com uma clara tendência do Mário para as miúdas, desde a Gabriela até à história em que ele explica porque começou a ler Woody Allen”. Mas, o humorista aconselhou a arrancar a página 179, antes de oferecerem o livro no Natal, “porque o Mário destrói um sonho: ele revela que às tantas, no filme ‘Nove Semanas e Meia’ foi utilizado um duplo para a Kim Basinger”. “Isso não se faz, é um sonho destruído”, concluiu Nilton.
João Carlos SebastiãoLembra-se da régua de furinhos (palmatória), chamada de ‘menina dos cinco olhos’, que era usada em quem não sabia a tabuada de trás para a frente? Ou da nota de 20 escudos (com a imagem de Santo António) que, hoje em dia, só permitiria comprar uma pastilha elástica?
São estas e muitas outras recordações daqueles que cresceram e viveram nas décadas de 60, 70 e 80 que fazem parte do novo livro do jornalista Mário Augusto, um dos expoentes da divulgação do cinema, que foi dado à estampa pela Bertrand. ‘Caderno Diário da Memória’ é a sequela de ‘A Sebenta do Tempo’, lançada em 2016, e que partiu de um desafio da editora. Nos primeiros apontamentos, Mário Augusto sentiu que tinha gasto os cromos todos, com a ajuda de amigos, “uma série de jovens da minha geração, uns carecas, outros de cabelo branco”, nascidos na década de 60.
Com 54 anos, o jornalista e apresentador foi obrigado, para este segundo livro, “a escavar mais para descobrir mais histórias”. Mas, para além disso, confessa: “expus-me mais”. A nova obra assume “um cruzamento de histórias com coisas pessoais”, incluindo as ‘gaffes’ que coleccionou ao longo de 28 anos de carreira, como num jantar em Londres, em 1986/87, quando foi enviado para entrevistar James Bond. As ‘gaffes’ são encaradas com naturalidade no livro e até no dia-a-dia: “a melhor forma de estar na vida é termos a capacidade de rir de nós próprios”.
‘Caderno Diário da Memória’ é, assim, um conjunto de “recordações, enquanto o Alzheimer não nos ataca, com o cruzamento de factos e acontecimentos muito importantes” para uma geração que, nesse tempo, vivia sem pressa: “Tínhamos tempo para brincar na rua, para usufruir de um brinquedo, porque não havia dinheiro para dois, e isso explorava-se de uma maneira entusiasmada e sentida”.
Com mais de duas mil entrevistas ligadas à ‘sétima arte’, Mário Augusto iniciou a vida de jornalista em ‘O Comércio do Porto’ e, no pequeno ecrã, deu os primeiros passos na RTP, pelo meio foi um dos fundadores da SIC, mas voltou ao canal público, onde, actualmente, coordena o projecto ‘Academia RTP’, destinado a formar e descobrir novos criadores de audiovisual.
No baú das memórias que recorda no livro, a televisão é, naturalmente, um dos pontos fortes, com a recordação dos filmes das matinés de fim-de-semana onde pontificavam o Tarzan e os ‘índios e os cowboys’, sem esquecer as séries de culto como ‘O Santo’, com Roger Moore, ou a saga familiar de Dallas. Em Portugal, Mário Augusto evoca Maria Leonor, “uma senhora de grande classe”, que foi a primeira a entrevistar Walt Disney, aquando de uma passagem por Lisboa, mas também Júlio Isidro, “estrela de TV e da rádio, mas nunca da cassete pirata”. Mas, também se fala do pequeno Calimero e de um noticiário para adolescentes, ‘A Bota das Sete Léguas’, onde Manuel Luís Goucha, aos 20 anos, iniciou a carreira e também entrou o jovem António Costa (com 16 anos)... “que desistiu de jornalismo para se tornar político e hoje é o primeiro-ministro de Portugal”.
Este livro é “uma caderneta de cromos”, realça o autor, “com histórias soltas, que vos vão avivar a memória para outras situações”, mas também permitir às novas gerações ficar a conhecer outros tempos. Aliás, os mais novos já apreciam com outros olhos as coisas antigas. Mário Augusto conta a história de um amigo que mostrou ao filho a sua velhinha máquina de escrever e disse: “‘Quando andava na faculdade, era com isto que eu escrevia. Metia-se aqui uma folha, um gajo carrega aqui...’. E o miúdo respondeu: ‘Isso é bué fixe, esse computador é porreiro, porque escreve e imprime ao mesmo tempo”.
Entre as memórias que integram o livro, “em que cada página é uma história: tem princípio, meio e fim, é como um filme”, o jornalista recorda os momentos passados “a tratar das coisas do coração” e as voltas que o mundo dá: “Tive que ir ao cardiologista e não é que a clínica de cardiologia fica, precisamente, no mesmo espaço da discoteca da minha juventude e eu, de repente, vejo-me na pista de dança à espera do electrocardiograma”. Nesses tempos antigos, o destaque recaía nos ‘Slows e mordidelas no pescoço’.
“Escrevi com paixão e entusiasmo”, salienta Mário Augusto, que vive desde sempre em Espinho, à beira-mar, embora confesse que não goste de praia. Os retoques finais deste livro, aliás, foram escritos no último Verão, aquando das férias em Marrocos, onde, caprichosamente, “choveu oito dias, permanentemente, e tive o tempo todo a escrever e ninguém me chateou: ‘então, não vamos para a praia?’”.
O humorista Nilton apresentou o livro em Lisboa e considerou que “este ‘Caderno Diário da Memória’ é um bocadinho a frase do Rodrigo Guedes de Carvalho, quando termina o Jornal da Noite (SIC): ‘O País e o Mundo’. Este livro é o país e o mundo: desde o Licor Beirão até à Famel (motorizadas)”. Para Nilton, o livro “é uma enciclopédia de cultura geral, com bonecos, e com uma clara tendência do Mário para as miúdas, desde a Gabriela até à história em que ele explica porque começou a ler Woody Allen”. Mas, o humorista aconselhou a arrancar a página 179, antes de oferecerem o livro no Natal, “porque o Mário destrói um sonho: ele revela que às tantas, no filme ‘Nove Semanas e Meia’ foi utilizado um duplo para a Kim Basinger”. “Isso não se faz, é um sonho destruído”, concluiu Nilton.
João Carlos Sebastião