As cheias de 1967 - que no concelho de Oeiras causaram elevado grau de destruição e, pelo menos, 50 mortos – vão ser recordadas num colóquio a realizar este sábado (dia 25), na Biblioteca Municipal de Oeiras. Com entrada livre, o evento pretende resgatar os acontecimentos e as duras lições de uma tragédia que, por estas paragens, fez sofrer sobretudo os mais pobres, em especial quem (sobre)vivia nos antigos bairros de lata.
“Aquilo era um grande rio”, recorda-se Helena Abreu, caracterizando a massa líquida que a 25 e 26 de Novembro de 1967 lhe passava em frente à casa onde morava, num 2.º andar da Rua Damião de Góis, em Algés, onde pôde ver “de palanque” o subir das águas mais abaixo. Tinha então 23 anos e, por isso, tem “memórias firmes” da tragédia. Ao JR recordou, com especial intensidade, a visão do terreiro que outrora existia nas traseiras do seu prédio, onde confluem hoje as ruas Luís de Camões e General Humberto Delgado: “Nesse terreiro da antiga casa da Quinta Matias havia casinhas, tipo vilas, que eram dos trabalhadores, e essas pessoas puseram-se todas em cima dos telhados e nós ali, no 2.º andar, a olhar para eles, eles a gritarem por ajuda e nós sem podermos fazer nada”, recorda esta antiga orientadora escolar e profissional, ainda hoje a morar em Algés.
Helena Abreu, que faz parte da plataforma Ciência Cidadã (?), será uma das promotoras do colóquio ‘Rios de Lama - Evocar as Cheias de Novembro de 1967 em Oeiras’, que decorrerá, no próximo sábado, entre as 09h30 e as 17h30, no auditório da Biblioteca de Oeiras. O evento junta, essencialmente, especialistas académicos e um conjunto de munícipes do Grupo Histórias de Vida, uma iniciativa criada há cerca de dois anos e apoiada pela autarquia através das Bibliotecas Municipais, da qual resultou um livro e um site onde vários cidadãos recordam o seu percurso pessoal e/ou profissional, episódios antigos que envolveram pessoas e lugares do concelho, enriquecendo, assim, o conhecimento do território e das suas gentes.
Nesse âmbito, a tragédia das cheias de 1967 foi um dos factos seleccionados do baú colectivo de recordações e a proximidade dos seus 50 anos elegeu-a para um tratamento diferenciado. O processo envolveu recolha e gravação de testemunhos presenciais de munícipes que vivenciaram e têm memórias do que então se passou, bem como vasta pesquisa em arquivos diversos, dividida por temas e distribuída por vários elementos daquele grupo.
O colóquio pretende recordar “a pior catástrofe natural na região desde o Terramoto de Lisboa de 1755” e reflectir sobre as suas múltiplas vertentes. Na parte da manhã, destaque para a intervenção de Ana Delicado, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que irá ‘Historiar as catástrofes – a história oral, a memória e a representação’, Paulo Gameiro (Ciência Cidadã e GHV), que apresentará ‘Um olhar geográfico’ sobre a tragédia, Dulce Freire, daquele mesmo instituto superior, que falará sobre ‘Gerir os rios: debates e iniciativas para controlar as inundações (séculos XIX-XX)’ e Helena Abreu (Ciência Cidadã e GHV) dará conta do resultado do seu estudo sobre ‘A explosão do Paiol do Carrascal, o boato e o pânico da população’.
Na parte da tarde, a primazia será dos testemunhos orais. Neste âmbito, vai ser exibido um depoimento filmado de Elizabete Aguardela (GHV), seguindo-se a intervenção de Maria Manuel Mora, antiga conservadora do Museu Calouste Gulbenkian, quando o mesmo funcionava no Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras. A jornalista e ex-dirigente académica Diana Andringa vai abordar ‘O movimento estudantil no rescaldo da catástrofe – considerada decisiva na tomada de consciência política da juventude – e, antes do encerramento do colóquio, será lançado o livro ‘As ‘Gotas de Ar Frio’ que Inundaram a Grande Lisboa - Memória das Cheias de 1967-O Concelho de Oeiras’, da autoria de Ana Paula Torres (Ciência Cidadã e GHV).
Jorge A. Ferreira“Aquilo era um grande rio”, recorda-se Helena Abreu, caracterizando a massa líquida que a 25 e 26 de Novembro de 1967 lhe passava em frente à casa onde morava, num 2.º andar da Rua Damião de Góis, em Algés, onde pôde ver “de palanque” o subir das águas mais abaixo. Tinha então 23 anos e, por isso, tem “memórias firmes” da tragédia. Ao JR recordou, com especial intensidade, a visão do terreiro que outrora existia nas traseiras do seu prédio, onde confluem hoje as ruas Luís de Camões e General Humberto Delgado: “Nesse terreiro da antiga casa da Quinta Matias havia casinhas, tipo vilas, que eram dos trabalhadores, e essas pessoas puseram-se todas em cima dos telhados e nós ali, no 2.º andar, a olhar para eles, eles a gritarem por ajuda e nós sem podermos fazer nada”, recorda esta antiga orientadora escolar e profissional, ainda hoje a morar em Algés.
Helena Abreu, que faz parte da plataforma Ciência Cidadã (?), será uma das promotoras do colóquio ‘Rios de Lama - Evocar as Cheias de Novembro de 1967 em Oeiras’, que decorrerá, no próximo sábado, entre as 09h30 e as 17h30, no auditório da Biblioteca de Oeiras. O evento junta, essencialmente, especialistas académicos e um conjunto de munícipes do Grupo Histórias de Vida, uma iniciativa criada há cerca de dois anos e apoiada pela autarquia através das Bibliotecas Municipais, da qual resultou um livro e um site onde vários cidadãos recordam o seu percurso pessoal e/ou profissional, episódios antigos que envolveram pessoas e lugares do concelho, enriquecendo, assim, o conhecimento do território e das suas gentes.
Nesse âmbito, a tragédia das cheias de 1967 foi um dos factos seleccionados do baú colectivo de recordações e a proximidade dos seus 50 anos elegeu-a para um tratamento diferenciado. O processo envolveu recolha e gravação de testemunhos presenciais de munícipes que vivenciaram e têm memórias do que então se passou, bem como vasta pesquisa em arquivos diversos, dividida por temas e distribuída por vários elementos daquele grupo.
O colóquio pretende recordar “a pior catástrofe natural na região desde o Terramoto de Lisboa de 1755” e reflectir sobre as suas múltiplas vertentes. Na parte da manhã, destaque para a intervenção de Ana Delicado, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que irá ‘Historiar as catástrofes – a história oral, a memória e a representação’, Paulo Gameiro (Ciência Cidadã e GHV), que apresentará ‘Um olhar geográfico’ sobre a tragédia, Dulce Freire, daquele mesmo instituto superior, que falará sobre ‘Gerir os rios: debates e iniciativas para controlar as inundações (séculos XIX-XX)’ e Helena Abreu (Ciência Cidadã e GHV) dará conta do resultado do seu estudo sobre ‘A explosão do Paiol do Carrascal, o boato e o pânico da população’.
Na parte da tarde, a primazia será dos testemunhos orais. Neste âmbito, vai ser exibido um depoimento filmado de Elizabete Aguardela (GHV), seguindo-se a intervenção de Maria Manuel Mora, antiga conservadora do Museu Calouste Gulbenkian, quando o mesmo funcionava no Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras. A jornalista e ex-dirigente académica Diana Andringa vai abordar ‘O movimento estudantil no rescaldo da catástrofe – considerada decisiva na tomada de consciência política da juventude – e, antes do encerramento do colóquio, será lançado o livro ‘As ‘Gotas de Ar Frio’ que Inundaram a Grande Lisboa - Memória das Cheias de 1967-O Concelho de Oeiras’, da autoria de Ana Paula Torres (Ciência Cidadã e GHV).
Jorge A. Ferreira