O fotojornalista alemão Kai Wiedenhöfer, premiado com dois World Press Photo, inaugurou hoje a sua exposição sobre o conflito na Síria e as suas vítimas, patente no Paredão de Cascais "para chegar ao cidadão comum".
A inauguração da "WARonWALL: The Struggle in Syria", inédita em Portugal, está incluída na nona edição do Lisbon & Estoril Film Festival (LEFF) e contou com a presença do fotojornalista para falar sobre a experiência deste trabalho.
"Mostrar o sofrimento dos civis e que são eles os que sofrem mais", resumiu Kai Wiedenhöfer.
Num domingo de sol e calor, com dezenas de pessoas a passear entre Cascais e o Estoril com o mar como pano de fundo, o fotojornalista alemão explicou à Lusa que a escolha do paredão para expor o seu trabalho é precisamente para chegar ao público comum.
"Quando se tem uma exposição num espaço público, o objetivo é serem as pessoas simples a vê-la. Numa galeria ou num lugar específico são sempre os suspeitos do costume. Aqui posso dar informação e mostrar coisas que as pessoas não estão à espera de encontrar e ficarem realmente admirados", disse.
O fotojornalista recusou qualquer ironia na realização de uma exposição que retrata o inferno das vítimas da guerra na Síria num local onde se disfrutam momentos de lazer despreocupados e sublinhou que "viver num lugar seguro é realmente uma coisa preciosa".
"Quando estou na Europa e falo com europeus digo-lhes que esta é a ilha dos sortudos porque se vamos à Ásia, África, Médio Oriente percebe-se que aqui é que se vive bem e a maioria das pessoas não tem noção disso, mas eu tenho", afirmou.
"WARonWALL: The Struggle in Syria" engloba retratos de mutilados da guerra e fotografias de grande formato que mostram a destruição da cidade de Kobane.
Para a realização deste tipo de trabalhos, Kai Wiedenhöfer frisou a necessidade de se manter um distanciamento sobre aquela realidade.
"Estas coisas acontecem e estas pessoas ficam afetadas, mas pessoalmente não me envolvo com este conflito. Estabeleço uma certa distância, o que pode não parecer pelas fotografias, mas é essencial quando se está a trabalhar num conflito. Isto é a vida deles, é a realidade deles, não é a minha", concluiu.
Kai Wiedenhöfer nasceu em 1966 é mestre em fotografia e 'design' editorial. Estudou árabe na Síria durante alguns anos e desde 1989 que o seu trabalho se foca principalmente no Médio Oriente, tendo viajado pelo mundo para fotografar muros de separação fronteiriça.
Entre os seus trabalhos mais relevantes destacam-se exposições sobre o Muro de Berlim e a Faixa de Gaza após os conflitos de 2009.