O descarrilamento de dois comboios na Linha de Cascais, em Algés, em 2013, teve origem numa falha técnica, segundo o relatório da comissão de inquérito nomeada pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT).
O relatório de investigação aos acidentes ocorridos a 08 de fevereiro, a que a agência Lusa teve hoje acesso, refere que a “rutura do veio motor” dos rodados de um dos comboios “esteve na origem e na cadeia de eventos que conduziram aos dois descarrilamentos”, concluindo ter-se tratado de “uma falha técnica”.
A peça mecânica que cedeu pertencia ao comboio que saiu de Oeiras e que descarrilou em Algés tendo, nesse trajeto, danificado o aparelho de mudança de via de Caxias, local onde o outro comboio, que seguia na sua retaguarda proveniente de Cascais, viria a descarrilar. “A rutura do veio provocou desalinhamentos e deslocamentos nos diversos órgãos que equipam o rodado motor, o que motivou danos em variados equipamentos da via e da sinalização, numa extensão aproximada de 5,5 quilómetros”, explica o documento.
Como à data do acidente o Gabinete de Investigação de Segurança e de Acidentes Ferroviários estava inativo, o IMT nomeou uma comissão de inquérito para apurar as causas do acidente.
A comissão de inquérito, presidida por um responsável do IMT e composta por mais quatro elementos, dois da CP e dois da REFER, aponta falhas à manutenção do material circulante na Linha de Cascais.
A manutenção é realizada segundo um plano, cujo cumprimento foi avaliado, tendo-se verificado que as automotoras envolvidas nos acidentes iriam “realizar visitas com atraso”.
No caso do veio motor fraturado, o último exame ultrassónico (espécie de ecografia) foi feito a 09 de julho de 2012, que comprovou não existirem anomalias. Porém, na ficha de registo ficou a recomendação de execução de novo exame, o que não aconteceu até à data do acidente, “sem justificação aceitável”.
Uma semana depois do acidente, a comissão de inquérito pediu à Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário exames laboratoriais para apurar a causa da fratura do veio, com a indicação de atualização deste relatório quando os resultados estivessem disponíveis, o que não aconteceu até hoje.
O controlo do estado dos veios motor também não era efetuado convenientemente.
“Rastreabilidade incompleta do veio, por impossibilidade de identificação da sua origem e respetivo lote de fabrico, o que não permite a identificação de outros veios que possam ter a mesma origem”, salienta o relatório.
O boggie motor (conjunto de rodados sobre os quais assenta a carruagem) onde aconteceu a fratura do veio circulava com os dois motores de tração fora de serviço, o que obriga a uma sobrecarga nos restantes eixos dos motores, sendo esta uma situação recorrente.
“Constatou-se que é frequente a realização de comboios na Linha de Cascais com unidades com motores fora de serviço por avaria”, sustenta o documento.
O relatório frisa que a falha técnica poderia ter sido controlada em tempo útil se a tripulação dispusesse de procedimentos, conhecimentos e treino necessários para diagnosticar situações de sobreaquecimento visíveis pela libertação de fumos, cheiros, e ruídos.
“O desconhecimento da tripulação sobre os procedimentos adequados foi, pois, um fator subsequente à falha técnica, que ao não diagnosticar a respetiva gravidade, concorreu para que os descarrilamentos não fossem evitados”, concluiu a comissão de inquérito.
Na sequência dos acidentes, duas pessoas foram ao hospital receber assistência médica. Os prejuízos em equipamentos de via e de sinalização ascendem a 150.000 euros.