A 30.ª edição do Festival de Almada vai ter em palco mais dez espectáculo que a anterior, sendo dezoito deles apresentados por companhias estrangeiras e dez portuguesas, contando ainda com seis estreias. Outra das marcas é a homenagem ao seu fundador, o encenador e autor Joaquim Benite.
A decorrer de 4 a 18 de julho, em nove salas entre Almada e Lisboa, a edição deste ano será a primeira após o falecimento do encenador e autor Joaquim Benite, criador deste festival que deu o primeiro passo num palco montado no Pátio Prior do Crato, em Almada Velha, e veio a tornar-se num dos mais importantes da Europa.
Em entrevista ao Jornal da Região, em 2010, Joaquim Benite revelava que teve de ultrapassar vários obstáculos ao que acrescentava: “Não fico deprimido com as derrotas e passei esse sentido de verticalidade para aminha Companhia”. Hoje, o actual director da Companhia de Teatro de Almada, Rodrigo Francisco, afirma que a edição deste ano “constitui um acto de resistência”. E, também para lembrar o mestre, o festival vai voltar a passar pelo pátio onde nasceu.
“O que distingue Joaquim Benite é a capacidade de ter criado um projecto não pessoal, mas para a população. E também a forma como preparou o futuro de um projecto com base num teatro ideológico que sobrevive para além do seu falecimento ”, afirma Rodrigo Francisco.
A falta de verbas continua a ser uma das dores de cabeça da organização do Festival de Almada, mais ainda quando a Secretaria de Estado da Cultura criou um tecto financeiro a ser dividido entre a sustentabilidade da Companhia de Teatro de Almada (CTA) e o Festival. “Através da DGArtes o Festival recebe 150 mil euros”, refere o director da Companhia. Da Câmara de Almada recebeu 200 mil euros e a própria CTA através de receitas próprias investiu 195 mil euros. Por isso Rodrigo Francisco comenta que a subvenção estatal “recuou 19 anos, para níveis de 1997”.
Mas com trabalho para captar fundos do QREN, acordos com entidades que normalmente apoiam o Festival e a entrada de novos patrocinadores, a 30.ª edição montou um programa alargado que vai ainda prestar tributo a “três mestres do teatro”: os encenadores Luís Miguel Cintra, o alemão Peter Stein e o espanhol José Luís Gómez.
Nomes presentes ainda deste festival são os dramaturgos Samuel Beckett, August Strindberg, Henrik Ibsen, o ator Klaus Maria Brandauer, que atuou em filmes como "África minha", "O pianista" ou "Nunca mais digas nunca", o Thêatre de Ville, do luso-descendente Emmanuel Demarcy-Mota, e companhias como os Artistas Unidos e a Cornucópia.
Para além do trabalho de companhias nacionais, o público vai ter em palco produções francesas, gregas e finlandesas, entre outras. O programa contempla ainda musica sinfónica e ópera, homenagens a Joaquim Benite através de material documental, um colóquio sobre a sua obra e documentário “Não basta dizer não” sobre a criação do seu último espectáculo, Timão de Atenas, de Shaskespeare.
O espectáculo de honra desta edição, o mais votado pelo público no ano passado, é O senhor Ibrahim e as flores do Corão, encenado e interpretado por Miguel Seabra. Público que este ano vai ter preços mais acessíveis para os espectáculos; as assinaturas para todo o programa é de 70 euros, mas se forem adquiridos dois passes ficam ambos por 100 euros.
A autora do cartaz do 30.º do festival, que a partir de agora passa a designar-se Festival de Almada Fundado por Joaquim Benite, é a artista Adriana Molder, que tem patente na Casa da Cerca a exposição Dodecaedro. Um trabalho que apresenta doze rostos femininos, todos eles na transformação de uma mesma mulher.