Financiamento é causa da maioria dos problemas do desporto

O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) defendeu hoje que quase todos os problemas do desporto português se devem à falta de financiamento e criticou as autoridades nacionais pela falta de apoio.
 
"Hesitei entre o tom negativo, corrosivo até, ao tom mais glamoroso, que tem sido o desta conferência, como os centros de alto rendimento. São temas de revista Caras, mas também temos temas do jornal ‘O Crime'", começou por dizer durante a sua intervenção na Conferência Internacional "Preparação Olímpica. Percursos e Contextos", que decorreu em Oeiras.
 
Discursando sobre o tema "Perspetivas nacionais: que percurso, que futuro?", Jorge Vieira assumiu que "ao nível do financiamento há um estrangulamento brutal".
 
"Quase todos os problemas do desporto aqui mencionados têm a ver com o financiamento", disse, lamentando que o orçamento da FPA esteja 26 por cento abaixo do financiamento máximo e que no ano passado este só tenha sido elevado em 0,8 por cento. "Alguma coisa de mal devemos ter feito no nosso percurso", pontuou.
 
Jorge Vieira reconheceu que o atletismo se debate com "problemas gravíssimos ao nível da organização", que têm a ver com o financiamento, e apontou o dedo às autoridades nacionais, que "raramente perguntam o que é preciso".
 
"Normalmente, quando nos reunimos é para nos avaliarem ou penalizarem se não atingirmos os objetivos", sublinhou, pedindo aos políticos que definam rumos e estratégias antes de decidir e que ouçam as federações antes de legislar.
 
O presidente da entidade que tutela o atletismo nacional admitiu, contudo, que os atletas de alta competição têm "meios bem agradáveis para fazer a sua preparação", mas distinguiu-os de todos os outros.
 
"É no processo de elitização, o processo que leva o atleta da base ao topo, que começam os problemas graves da nossa modalidade. Não estamos sozinhos, é um problema do desporto português", assegurou, elencando aquilo que chamou de "estrangulamentos" do atletismo.
 
Para o presidente da FPA, os problemas da modalidade vão desde o estatuto, formação e remuneração dos treinadores, às infraestruturas de treino, quer pela ausência de pistas qualificadas, quer pela falta de salas de musculação
 
"Não existem, não estão equipadas - há qualquer coisa que não bate certo quando para o fitness existem as infraestruturas e para nós no alto rendimento não", sublinhou, mostrando vários casos de défice de estruturas ou mau equipamento das mesmas pelo país.
 
Ao contrário de Jorge Vieira, os outros presidentes federativos - Delmino Pereira, do ciclismo, Pedro Moura, do ténis de mesa, e Vítor Félix, da canoagem - preferiram destacar exemplos de atletas de sucesso das suas modalidades, com o último a criticar o pouco mediatismo que a canoagem tem em anos não olímpicos.
 
"Em mais nenhum setor da nossa sociedade a imprensa é tão exigente. Podem dizer-me em que outros setores competimos com os melhores? Em mais nenhum estamos entre os melhores do mundo", disse Vítor Félix, reconhecendo que a fasquia da canoagem é aquela que mais elevada estará nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
 
A Conferência Internacional "Preparação Olímpica. Percursos e Contextos", uma iniciativa do Comité Olímpico de Portugal que hoje terminou em Oeiras, colocou a debate os diferentes modelos de preparação de atletas de elite.