Quase dez anos depois de remover uma mama na sequência de um tumor, Maria da Luz começou a ter o braço incapacitado e com dores que a impediam de fazer uma vida normal.
Foi esta limitação que a conduziu ao Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão e a fez conhecer como a fisioterapia pode ajudar mulheres submetidas a mastectomias.
"Há 10 anos tive de fazer uma operação para tirar os gânglios linfáticos. Passados nove anos, o braço começou a inchar, por falta de circulação da linfa, e com dificuldade de movimentação. Era muito limitativo. Não levantava 60% do braço", conta Maria da Luz, que se encontra novamente a defrontar a doença oncológica, que reincidiu.
É comum nestes casos perder-se a capacidade do membro realizar "um bom retorno venoso e linfático", que faz com que o braço inche e limite a amplitude de movimentos do lado em que a mama foi extraída, explica a fisioterapeuta Inês Proença.
"Passa por diversas técnicas. Fazemos, nomeadamente, pressoterapia (uma manga pneumática que com pressões ajuda a desinchar o braço) e drenagem linfática terapêutica para estimular o membro a desinchar e restituir os caminhos linfáticos", adianta a terapeuta.
No Centro de Alcoitão, que pertence à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, os casos de mastectomias também são trabalhados pelos fisioterapeutas ao nível da consciência corporal, numa tentativa de devolver à mulher a sua feminilidade.
"A mama tem muito simbolismo cultural e sexual. Tentamos voltar a devolver à pessoa o seu bem-estar enquanto mulher sobre a sua própria imagem. Isso passa por treino de exercícios terapêuticos frente ao espelho, para a mulher se sentir mais ela própria e mais funcional", indica a terapeuta Inês Proença, lembrando que o cancro da mama é o mais mortal entre as mulheres em Portugal, estimando-se a sua incidência em cerca de 45 mil casos por ano.
Maria da Luz ainda só vai na segunda sessão de terapia e já conseguiu retomar as suas atividades normais, como ir ao ginásio, quando há dois meses nem sequer era capaz de mexer uma colher num tacho.
As sessões variam consoante cada doente, dependendo muito do tipo de edema e de incapacidade, mas duram geralmente entre dois meses a um ano.
Aliás, apesar das melhorias alcançadas, Maria da Luz, que acede a Alcoitão através do subsistema de saúde dos funcionários públicos (ADSE), está consciente de que a fisioterapia a irá acompanhar o resto da vida, mesmo que não de forma continuada.
"Depois da cirurgia de remoção da mama alertaram-me: Não pegues em pesos, não faças força. Mas não ligamos. De repente, temos o braço inchadíssimo e não o podemos mexer. Causa muita dor, é bastante limitativo", conta, assegurando que, agora, se tem tornado mais cautelosa em relação a esforços.
Os casos de mastectomias não são muito significativos no trabalho do Centro de Alcoitão, mas é uma forma de dar resposta às necessidades variadas da comunidade em termos de fisioterapia.
Apesar de a reabilitação neurológica ser a área privilegiada de Alcoitão, a fisioterapeuta Alexandra Salgueiro lembra que há outras patologias tratadas no Centro, como as do foro reumatológico, algumas doenças respiratórias, casos de amputação e doenças como Alzheimer ou Parkinson.
"Tem sido crescente o número de doentes com Parkinson aqui recebidos. Criámos até um grupo de intervenção específico para essa patologia em regime de ambulatório", refere a terapeuta.
É uma intervenção paralela à medicamentosa, que tenta "dar mais funcionalidade a esses utentes, melhorando as alterações da coordenação, de força muscular".
No caso da doença de Parkinson, as sessões são realizadas três vezes por semana, uma delas em meio aquático, na piscina do Centro, também usada para a reabilitação noutras doenças.
As restantes são feitas num dos dois ginásios de Alcoitão, que acolhem tanto casos de sequelas de AVC, como grandes politraumatizados de acidentes de viação, pessoas com amputações ou doentes com lesões músculo-esqueléticas.
Além destes dois espaços, situados no piso térreo, Alcoitão tem ainda outro ginásio de uso exclusivo para bebés e crianças.