“Ganhar medalhas está sempre na minha cabeça”

Portugal vai receber, mais uma vez, o ‘European Judo Open Women 2018’, uma das provas mais importantes do calendário internacional da modalidade, mas desta vez Telma Monteiro é ‘apenas’ a madrinha do evento. A melhor judoca portuguesa de todos os tempos está a preparar-se para a primeira grande competição do ano: o Grand Slam de Paris, a 10 e 11 de Fevereiro.
 
Antes de rumar a Paris, a judoca Telma Monteiro vai ser uma das cabeças de cartaz do ‘European Judo Open Women 2018’, que decorre este fim-de-semana, dias 3 e 4, em Odivelas, com uma participação estimada de 150 atletas, oriundos de 24 países. Mas, desta feita, a medalha de bronze nos Jogos do Rio de Janeiro 2016 será a ‘madrinha’ da prova. Um estatuto diferente que, porém, não muda a postura da atleta. “Não sinto responsabilidade, é um orgulho ser a madrinha da competição. Já estive presente noutras vertentes: só a assistir, a competir... Tive oportunidade de ganhar mais do que uma edição desta competição e, agora, estou como madrinha para não só incentivar a selecção, mas também apelar às pessoas para estarem presentes e apoiarem a nossa equipa”, sublinha Telma Monteiro. 
Para além de participar numa sessão de autógrafos, sábado, pelo meio-dia, a atleta olímpica vai dar uma ‘master class’, pelas três da tarde, para crianças entre os 6 e os 12 anos, organizada pela Federação Portuguesa de Judo.
“Eu gosto do contacto com os mais novos. Não ensino, no meu dia-a-dia, porque não tenho disponibilidade, mas costumo estar presente em aulas de amigos que são professores de judo. Vai ser uma grande oportunidade para mim, para sentir o carinho dos mais jovens, e deles de estarem comigo na ocasião, durante cerca de 30 minutos”, salienta.
Uma experiência para os mais pequenos que Telma não teve, em tenra idade, porque só começou a praticar judo com 14 anos, embora o desporto, em particular o atletismo e o futebol, fizessem parte do seu quotidiano. “A formação que tive como atleta foi importante. Como se viu, acabou por não ser tarde. O mais importante é termos um desenvolvimento alargado e as minhas capacidades motoras acabaram por ser desenvolvidas de outra forma”, realça. “Mas, claro, se tivesse tido uma ‘master class’ com uma Telma Monteiro, se calhar tinha começado no judo mais cedo”, brinca.
As atenções da judoca estão concentradas em Paris, mas, ainda antes (entre 5 e 7), vai integrar o ‘Women International Training Camp’, um estágio internacional para atletas femininas, no INATEL da Costa de Caparica, com a presença de judocas de Japão, Brasil, Israel, entre outros países. “Vou aproveitar a oportunidade de ter bons atletas de nível internacional”, acentua Telma, adiantando que o Grand Slam de Paris será “a grande competição para começar o circuito mundial. O apuramento olímpico só começa em Maio, mas é importante começar a pontuar e a subir no ranking mundial para depois estar mais bem cotada nas competições e poder entrar como cabeça-de-série e, no fundo, voltar ao topo mundial e ganhar medalhas nas grandes competições”. 
Mas, Paris será já para ganhar ou aprimorar a forma? “O objectivo principal é continuar a melhorar a minha forma, mas ganhar medalhas está sempre presente na minha cabeça. É impossível competir num Grand Slam, em especial o de Paris, que é o mais forte, a par de Tóquio, e não pensar em ganhar uma medalha”, acentua. “Obviamente, tenho ainda que melhorar, não só em termos físicos como em termos técnico-tácticos. Vai ser também a primeira grande prova onde vai ser implementada outra mudança de regras, mas, até ao fim da minha carreira, ganhar medalhas é algo que vou ter sempre presente em cada competição”, reforça a judoca, que já obteve cinco medalhas em campeonatos do Mundo e 11 em europeus. “Para mim, em cada campeonato, é sempre para ganhar medalhas e este ciclo não vai ser diferente. Não posso dizer que vou ganhar sempre, mas vou querer ganhar sempre e fazer por isso”, frisa. 
Após a medalha no Rio, os próximos Jogos Olímpicos são, naturalmente, a grande meta de Telma, mas ainda há um percurso de cerca de dois anos e meio: “Os Jogos Olímpicos são o principal objectivo, mas, até lá, existem objectivos intermédios, como campeonatos da Europa, Grand Slam, Mundiais e Masters, sendo provas que marcam a carreira e onde estou habituada a pontuar e ganhar medalhas”. Até Tóquio, o sonho continua a ser conquistar os grandes palcos mundiais.
Com 32 anos, celebrados a 27 de Dezembro, a judoca não pensa, ainda, no fim da carreira. “Quando passamos a barreira dos 30, essas dúvidas começam sempre a surgir, exteriormente, mas, a partir do momento que decido continuar, estou empenhada sempre a 100% como estava antes dos 30. Sinto que ainda tenho capacidades para ser a melhor do mundo e o fim de carreira não me passa pela cabeça”, conclui.
                                     
João Carlos Sebastião