Como se estivesse numa caixinha de música, a fadista Gisela João ocupará em dezembro o Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, com três noites de concertos em que interpretará músicas escolhidas por amigos.
A convite daquele teatro municipal, Gisela João criou um programa de concertos, de 10 a 12 de dezembro, nos quais dará voz a canções escolhidas por amigos e que a desafiam para lá das fronteiras do fado. Aos concertos na sala principal, junta-se uma programação paralela no Jardim de Inverno que contará com bordados e uma danceteria.
"Achei que podia fazer uma coisa diferente. Gosto de cantar outros músicos, de arriscar um pouco e lembrei-me também da ideia das caixinhas de música que se abrem e têm uma boneca lá dentro a dançar", contou a cantora à agência Lusa.
Para compor o programa, Gisela João pediu a amigos e conhecidos que lhe escolhessem músicas para reinventar - e não afadistar, avisou - em palco. Bateu à porta, por exemplo, do ilustrador André Carrilho, do fadista Camané, do realizador João Botelho e recebeu de volta propostas de canções de intérpretes tão diferentes como Frank Sinatra, Amy Winehouse, Violeta Parra e Nick Cave.
Perante estas escolhas, Gisela João contou que se reconheceu nelas: "Não é pelo género musical, mas pelo texto, pelo poema, pela história que apresentam. E, ao mesmo tempo, as escolhas deles parece que refletem o que sou, de um certo ponto de vista, e isso é muito interessante".
O concerto tem direção musical de Frederico Pereira e, em palco, Gisela João contará com a presença do músicos Oscar Graça (piano), Eduardo Raon (harpa e guitarra elétrica), Nelson Cascais (contrabaixo), Paulo Bandeira (bateria), Tomás Pimentel (flugel), Nelson Aleixo (viola), Ricardo Parreira (guitarra portuguesa) e do Coro Lopes-Graça.
No Jardim de Inverno, Gisela João prepara uma série de iniciativas, como um workshop de bordados, com Joana Caetan, autora do projeto Jubela, sessões de produção fotográfica - ambas necessitam de inscrição prévia -, uma noite de danceteria e outra de guitarradas, com Ricardo Parreira.
"Não gosto de ficar à espera que as coisas aconteçam. Gosto de fazer acontecer e tudo isto tem a ver comigo. Sou uma pessoa comum, faço bordados e costura e vou fazer sessões de fotografias que, se calhar, são mais para mulheres, que sofrem tantas pressões, porque queria provar que são todas bonitas", explicou a cantora à agência Lusa.
Estes concertos acontecem no final de um ano em que Gisela João subiu aos coliseus de Lisboa e do Porto onde apresentou o elogiado e premiado álbum de estreia, intitulado "Gisela João", editado em 2013.
Nascida em Barcelos, Gisela João viveu no Porto antes de se mudar para Lisboa, onde começou a cantar na casa de fados Senhor Vinho. Passou também pelo grupo Atlanthida, antes de editar o primeiro álbum em nome próprio.
Em disco ou em palco, Gisela João sublinha a genuinidade de uma pessoa comum que rejeita vedetismos.
"Esse endeusamento chateia-me, eu entendo que haja pessoas que, por insegurança, não sei, adoram ser endeusadas, mas eu não tenho nada a ver com isso. Sou uma pessoa como as outras, tenho de passar a ferro, fazer o jantar e fico lixada quando chove e tenho roupa estendida. Ali no palco, sou eu, a Gisela", sublinhou à Lusa.
Enquanto prepara este "Caixinha de música" no São Luiz, Gisela João está também a fazer o próximo álbum do qual pouco adiantou. "Tem de sair como eu quero e é preciso tempo, um exercício de distanciamento, fechar-me naquilo que eu quero". Sairá em 2016.