O Tribunal de Sintra começa a julgar na terça-feira 23 arguidos acusados de associação criminosa por roubos de duas dezenas e meia de caixas multibanco com recurso a explosivos, assaltos a estabelecimentos e furto de veículos.
O despacho de pronúncia, a que a Lusa teve acesso, confirmou a acusação contra 23 arguidos pelo "crime de associação criminosa". No total foram assaltadas 24 caixas automáticas de pagamento (ATM), nem sempre com sucesso, e roubadas dez viaturas (duas por "carjacking") para a prática dos crimes nos distritos de Leiria, Lisboa, Santarém e Setúbal.
Os roubos de ATM ocorreram em agências bancárias, edifícios públicos e comerciais e postos de combustível. Os equipamentos eram arrombados através do alargamento da ranhura de saída das notas com um pé de cabra, e posterior rebentamento de um cartuxo explosivo, com detonador e cordão de rastilho.
Segundo a Polícia Judiciária, a atividade decorreu entre abril e outubro de 2012, altura em que foram detidos 14 elementos, entre os quais os três fundadores, que congregaram esforços "para recrutarem fornecedores de explosivos civis e assim evoluírem de um método de arrombamento de caixas ATM com recurso a gás acetileno".
As investigações levaram a mais seis detenções, em junho e julho de 2013. No inquérito não se determinou a participação nos assaltos de outros quatro arguidos. O grupo residia em Algueirão-Mem Martins e Rio de Mouro, mas alargou a atividade a Alcobaça, Amora, Cadaval, Cascais, Mafra, Oeiras, Santarém, Torres Vedras e Vila Franca de Xira.
A primeira tentativa de furto numa ATM em Negrais (Sintra), a 24 de abril, não correu bem. A explosão por gás acetileno, acionada com um rasto de gasolina a arder, apenas danificou as instalações e os cinco assaltantes fugiram com receio do alarme na vizinhança.
O grupo furtou depois uma carrinha em Sassoeiros (Cascais) e dois veículos comerciais e 75 caixas de uísque num armazém de bebidas no Linhó (Sintra).
A primeira experiência com explosivos visou a ATM da fachada de uma agência na Malveira da Serra (Cascais), o equipamento resistiu à explosão porque a gelamonite, subtraída de uma empresa de construção no Lourel, estava deteriorada.
O grupo regressou a Negrais. A gelamonite, desviada pelo empregado de uma empresa de construção civil em Ouressa (Sintra), não rebentou com a máquina. Os estragos somaram mais de 24.000 euros.
Na mesma noite, na estação da CP de Mira-Sintra/Meleças, o explosivo destruiu a ATM "portátil" junto às bilheteiras, mas acionou o sistema antifurto de tintagem de notas. Foram levados 44.020 euros, tingidos de vermelho.
A rota de rebentamentos de ATM passou pela fábrica da Siemens, no Sabugo (9.300 euros); complexo multiserviços municipal na Adroana (27.580); centro comercial Riyadh, em Cascais (70.010); supermercado na Encarnação (48.370 euros); estação da CP na Ribeira de Santarém (33.660); Junta de Freguesia de Runa (35.920); posto de combustíveis nas Mercês (17.710); agência bancária em Á-dos-Francos, (27.180), ou Junta de Freguesia da Vermelha (23.230).
O juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre, pronunciou ainda alguns dos arguidos em coautoria de outros crimes, como de provocação de explosão com perigo doloso para a vida e bens patrimoniais alheios de valor elevado, furto qualificado, roubo, detenção de armas proibidas ou tráfico de droga.
O magistrado manteve a prisão preventiva a 12 arguidos e a prisão domiciliária com pulseira eletrónica ao líder do grupo. Para um arguido em paradeiro desconhecido, que requereu a abertura de instrução, emitiu mandados para a prisão preventiva.
O início do julgamento está agendado para terça-feira no Tribunal de Sintra.