O Hospital Garcia de Orta, em Almada, aplicou ontem, dia 5 de Julho, pela primeira vez, uma intervenção pioneira para tratar doentes com hipertensão arterial (HTA) resistente aos medicamentos. O doente foi submetido a um procedimento que consiste na desnervação renal, uma técnica minimamente invasiva através de cateterismo.
A HTA resistente é uma patologia em que os pacientes, apesar do tratamento com três ou mais medicamentos anti-hipertensivos, continuam com níveis elevados de pressão arterial. Trata-se de uma doença crónica especialmente perigosa devido à sua associação com um aumento do risco cardiovascular, incluindo AVC e enfarte, assim como insuficiência cardíaca e doenças renais. Estes pacientes têm o triplo de probabilidade de sofrer de doenças cardiovasculares, quando comparados com indivíduos com pressão arterial controlada.
“Estamos muitos entusiasmados por iniciar esta técnica e por disponibilizarmos aos nossos doentes esta abordagem inovadora no tratamento da HTA resistente", afirma o Director do Serviço de Cardiologia do HGO. Segundo o clínico Hélder Pereira, "a desnervação renal e o tratamento contínuo com anti-hipertensivos garantem aos pacientes com HTA resistente a oportunidade de controlar os seus níveis de pressão arterial”.
Esta técnica é um procedimento minimamente invasivo, que desactiva os nervos simpáticos localizados nas paredes da artéria renal. O sistema consiste num gerador e num cateter flexível, que é introduzido através da artéria femoral dentro de ambas as artérias renais.
Uma vez no local, a ponta do cateter emite uma pequena energia sob a forma de radiofrequência, de acordo com um algoritmo padrão, para assim proceder à redução da actividade da enervação renal, responsável importante no desenvolvimento da HTA. O procedimento não envolve um implante permanente.
Até ao momento, a investigação clínica mostra que a desnervação renal permite uma redução significativa e sustentada dos níveis de pressão arterial para muitos doentes com HTA resistente, apesar de vários medicamentos anti-hipertensivos.
Dados da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, em Portugal quase metade da população tem hipertensão, sendo que em apenas 11 por cento destes a doença está controlada. A HTA é considerada a principal causa de morte à escala mundial. Afecta, aproximadamente, 1,2 mil milhões de pessoas e está associada a um aumento do risco de ataque cardíaco, enfarte, insuficiência cardíaca, doença renal e morte. Estima-se que a hipertensão tem um custo directo para o sistema de saúde global de mais de US $500 mil milhões anualmente.