Jerónimo desafia PS para mudança política

O PCP está aberto ao “diálogo” com outras forças políticas de esquerda para derrotar o governo PSD/CDS. “Não renunciamos à convergência”, afirmava Jerónimo de Sousa no discurso de encerramento do XIX Congresso do PCP, que decorreu nestes últimos três dias em Almada. Mas, “ninguém exija ao PCP que deixe de ser o que é, que deixe de falar verdade, que deixe de lutar por outra política, que rompa com esta estafada alternativa”.

Reeleito secretário-geral pelo Comité-Central para mais um mandato de quatro anos, Jerónimo de Sousa não têm dúvidas de que o governo de Passos Coelho “não tem futuro” e que o PCP estará “numa solução alternativa” para travar “um novo e rude golpe nas funções sociais do Estado, na democracia e na Constituição”.

Num discurso que muitos entenderam como uma chamada ao PS para a “mudança política” e ruptura com o memorando da troika, o líder comunista reafirmava que é “urgente uma outra política e um outro governo”. Mas os socialistas teriam de trocar o passo, uma vez que estão comprometidos com a direita. “O PS não dá resposta à contradição fundamental que é a de saber se é possível uma alternativa verdadeiramente de esquerda, mantendo-se comprometido e identificado com a política de direita em questões estruturantes”.

Com o PCP pronto para as “tarefas e batalhas que aí estão, e aí vêm”, o dirigente socialista Alberto Martins reagiu ao discurso de Jerónimo de Sousa manifestando que o PS está disponível para dialogar, mas “rejeita” que o seu partido seja tratado como “o inimigo" e que “há regras constitucionais”.

O ex-ministro da Justiça afirma que o PS “defende a mudança”, mas com “responsabilidade”. Pelo que considera um erro “rasgar o memorando da troika, já que o país deixaria de ter o apoio financeiro necessário para resolver os problemas”. 

“Responsabilidade” foi também a expressão usada pela dirigente do Bloco de Esquerda, Cecília Honório, que não coloca de parte o desafio do PCP. "Não há governo de esquerda sem a responsabilidade de todos os partidos de esquerda e de todas as forças de esquerda", comentava após o encerramento do Congresso do PCP.

“Sem surpresas”, foi a forma como o vice-presidente do PSD Pedro Pinto ouviu o discurso de Jerónimo de Sousa. “É um ritual que o PCP cumpre mais ou menos há 36 anos que é o de pedir a demissão dos governos”. Por isso “não comporta uma surpresa”. E reafirmou que o governo vai continuar o trabalho e que “não há nenhum partido comunista” que faça mudar a acção do executivo naquilo que a maioria “considera que é a construção do futuro de Portugal”.

O XIX Congresso do PCP elegeu um novo Comité Central, com 152 elementos, menos quatro que o anterior, mas com mais representatividade de mulheres (24,7 por cento). A média etário dos membros é de 47,6 anos.