O ministro da Cultura defendeu em Sintra, nos 20 anos da classificação da vila pela UNESCO, a cooperação com as autarquias e a sociedade civil para valorizar o património cultural como marca da identidade histórica e afirmação económica.
"Penso que é possível fazer um trabalho de cooperação com as autarquias e com a sociedade civil, com os agentes económicos, nomeadamente ao nível da hotelaria, do turismo e de outras áreas, para valorizar o nosso património cultural como uma das marcas da nossa identidade histórica e da nossa afirmação num plano de economias cada vez mais competitivas", afirmou João Soares.
O ministro, que falava à Lusa no âmbito das comemorações dos 20 anos da classificação da Paisagem Cultural de Sintra como Património Mundial, explicou que pretendeu "celebrar uma data importante, do ponto de vista daquilo que tem de ser a conservação e a preservação" do património histórico, e sublinhou que "Sintra é um dos símbolos maiores do património histórico de Portugal".
"Mas também no plano estritamente pessoal, enquanto ex-autarca de Sintra na oposição, trata-se de um momento afetivo muito particular, por isso é que fiz questão de passar por aqui muito brevemente, correspondendo a um convite que me honrou muito do senhor presidente Basílio Horta", acrescentou João Soares, assumindo o retorno à vila "com grande prazer" e uma "pontinha de emoção".
O ministro acompanhou o descerramento de um marco na Volta do Duche, assinalando duas décadas da elevação de parte da vila e da serra a Património Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), a 06 de dezembro de 1995.
O presidente do município, Basílio Horta (PS), salientou que as comemorações também visam mostrar o que foi feito na vila, nomeadamente com a recente criação do Gabinete do Património Mundial, que vai ser um centro UNESCO.
"O Património Mundial preserva-se, mas vive-se. Para se preservar temos de ter políticas próprias e a câmara aí tem um papel muito importante, em conjunto com a [sociedade] Parques de Sintra-Monte da Lua", frisou o autarca.
A Paisagem Cultural possui uma zona "inscrita", onde se concentram os parques da Pena e de Monserrate e respetivos palácios, o Castelo dos Mouros, o Convento dos Capuchos e o antigo Paço Real, na vila, e as zonas "tampão", que se estende da serra até ao litoral, e "de transição", que se prolonga pela área do Parque Natural de Sintra-Cascais.
O presidente da autarquia apontou a criação de uma Área de Reabilitação Urbana (ARU) para o centro histórico, com cerca de 180 hectares, para ajudar os proprietários a reabilitarem os imóveis degradados, penalizando em termos fiscais quem não o fizer.
"O primeiro desafio importante que Sintra precisa de ultrapassar é a mobilidade", admitiu Basílio Horta, acrescentando que "o problema não é de agora, que vem muito de trás, mas que agora se sente muito mais", quando no ano passado a vila teve dois milhões de visitantes e se estima que este ano chegue aos 2,4 milhões.
A construção de um silo automóvel na Portela de Sintra, para mais de 700 viaturas, e outros dois parques de estacionamento na Estefânea e no Ramalhão permitirão condicionar o trânsito no centro histórico, perspetivou.
"Quando se chega a Sintra pela primeira vez, somos primeiro surpreendidos por essa mistura de estilos arquitetónicos, onde as influências góticas, mouriscas, barrocas e até asiáticas coabitam em perfeita sintonia", notou o vereador do Urbanismo e Património do município de Bruxelas, Geoffroy Coomans de Brachène.
O presidente substituto da comissão nacional da UNESCO, Jorge Lobo de Mesquita, considerou que pertencer à lista de Património Mundial "é simultaneamente uma distinção e um compromisso que Sintra tem muito dignamente sabido assumir" com a comunidade internacional e com a população local.
Para o social-democrata Fernando Seara, ex-presidente da autarquia, os 20 anos representam "um momento reconfortante", após "o período complicado entre 2005 e 2006", que foi ultrapassado "em articulação com a UNESCO e o comité do Património Mundial".