Sozinho ao piano, o músico Jorge Palma prepara-se para fazer seis concertos, quase esgotados, nos quais celebra os 25 anos da gravação do álbum "Só". "Ele está aí, está bom, sobreviveu e cresceu", refere.
Jorge Palma tinha 40 anos quando gravou, em 1991, as 15 canções deste álbum, nos antigos estúdios da Valentim de Carvalho. "É um disco intimista, é um ambiente íntimo que reflete de facto o que aconteceu na escuridão daquele enorme estúdio. Reflete-se que há uma entrega grande, que há um empenho", recordou.
Vinte e cinco anos depois, Jorge Palma realiza seis concertos - o primeiro dos quais na segunda-feira, no CCB, em Lisboa - para tocar o álbum na íntegra e acrescentar algumas outras composições, nomeadamente uma sonata de Beethoven. Daí o nervosismo.
"Há muito nervo neste momento. E ansiedade. Sei que, quando entrar em palco, não há volta a dar", afirmou o músico, com 66 anos feitos, 50 de experiência profissional e um relacionamento com o "bicho" piano que vem do berço - "nasci com um piano vertical no quarto".
Nos concertos, que, além de Lisboa, incluem também Porto, Coimbra e Faro, Jorge Palma tocará outros temas dele, entre os quais um inédito do álbum que deverá sair na próxima primavera, e algumas versões. Bob Dylan, Paul Simon, Leo Ferré ou Leonard Cohen estão entre as escolhas do músico.
"Gosto do risco e atiro-me, aproveito esta oportunidade, com um piano e um palco meu para o que eu quiser, para tocar uma sonata de Beethoven - e isso é que me está a dar mais trabalho. Vou para a cama e isto está tudo a fervilhar", sublinhou.
Com produção de Francis e captação de som de José Manuel Fortes, "Só" foi a primeira coletânea de carreira de Jorge Palma e revisitava, apenas ao piano, canções dos discos das duas décadas anteriores.
Do alinhamento fazem parte, por exemplo, "Bairro do amor" (1977), "Na terra dos sonhos" (1980), "O meu amor existe" (1982), "Estrela do mar" (1984), "Deixa-me rir" (1985) e "Frágil" (1989).
Na altura, "a editora não estava muito abonada para um artista como eu que não é um grande vendedor de discos", recordou. Deram-lhe a possibilidade de gravar piano e voz e ainda hoje diz ser abordado por pessoas que lhe elogiam o disco.
Depois de "Só", Jorge Palma passou o resto dos anos 1990 com a discografia que tinha, avançou com o Palma's Gang,, fez música para teatro, fez parte do grupo Rio Grande, compôs para outros, até editar um novo álbum, "É proibido fumar". Seguiram-se "Norte" (2004), "Voo nocturno" (2007) e "Com todo o respeito" (2011).
Está há cinco anos sem editar originais, mas Jorge Palma diz-se afortunado com a carreira. Tem andado quase sempre na estrada, fez, por exemplo, um espetáculo e digressão com Sérgio Godinho, tem esgotado salas com as canções de há várias décadas.
"Não sei como é que vou estar para o ano, não penso nisso e tenho sido... levo uma vida mais regrada, mas a minha vida tem sido toda de excessos, tenho um organismo muito forte. Tratei mal esta coisa, desde o fígado, pulmões, é assim. (...) Tenho muito trabalho, muitas propostas, ideias, saúde, o que é que eu quero mais?", disse.
Os concertos de celebração do álbum "Só" estão marcados para segunda e terça-feira, no Centro Cultural de Belém, seguindo-se, nos dias 01 e 03 de dezembro, na Casa da Música (Porto), no dia 06, no Convento São Francisco (Coimbra) e, no dia 10, no Teatro das Figuras (Faro).