Liga dos Bombeiros sublinha importância da prevenção contra fogos nos parques naturais

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Soares, exortou hoje o Estado a reforçar a proteção dos parques naturais e disse que os bombeiros farão a sua parte na defesa destas áreas contra incêndios.
 
“É importante nunca descurar esse património maravilhoso e defendê-lo dentro do que é possível da nossa parte”, declarou à agência Lusa, a propósito do Dia Europeu dos Parques Naturais, que se assinala na terça-feira.
 
Contudo, o presidente da LBP entende que cabe sobretudo a “quem faz a gestão” destes espaços – o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) – “assegurar os aspetos preventivos”, para evitar a sua destruição pela ação humana e pelos fogos.
 
Um parque natural, segundo o ICNF, é “uma área que contenha predominantemente ecossistemas naturais ou seminaturais, onde a preservação da biodiversidade a longo prazo possa depender de atividade humana, assegurando um fluxo sustentável de produtos naturais e de serviços”.
 
Os parques naturais “às vezes são mais bem tratados pelos privados do que pelo Estado”, referiu, frisando que os bombeiros que combatem os incêndios florestais “têm ainda mais cuidados quando se trata” destas áreas classificadas.
 
Os bombeiros e os serviços municipais de Proteção Civil “têm essa preocupação e realizam exercícios em conjunto com outras forças”, como o Serviço de Proteção da Natureza (SEPNA) e o Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS), ambos da GNR.
 
Para Jaime Soares, o ICNF deve promover “uma cultura de preservação e sensibilização” que leve os cidadãos a adotar comportamentos mais adequados à defesa dos parques naturais: ”Há que mudar mentalidades, para que todos os que os utilizam assumam sempre estes parques como espaços seus”.
 
O presidente da Liga lamentou ainda que, “por descuido, maldade do homem ou até interesses mesquinhos e económicos”, vários parques tenham sido atingidos por incêndios nos últimos anos.
 
Em Portugal continental, existem 13 parques naturais: Montesinho, Douro Internacional, Litoral Norte, Alvão, Serra da Estrela, Tejo Internacional, Serras de Aire e Candeeiros, São Mamede, Sintra-Cascais, Arrábida, Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Vale do Guadiana e Ria Formosa.
 
Desta lista não consta a zona da Peneda-Gerês, único parque nacional português (classificação máxima de proteção ambiental).
 
O comandante operacional nacional da Proteção Civil, José Manuel Moura, referiu que este parque é o único que requer um dispositivo de combate às chamas específico, através de um "plano supradistrital", que implica "mais proximidade, maior visibilidade, com equipas que estão a responder em tempo real a alguma ocorrência que possa ali acontecer".
 
Em causa está a sua dimensão: é abrangido por três distritos (Braga, Viana do Castelo e Vila Real) e implica tempos de deslocação "muito significativos".
 
O comandante assegurou que a Proteção Civil trata todo o território nacional "com a mesma preocupação", embora esteja atenta às zonas de maior risco, e que não há diretrizes nacionais específicas para os parques naturais: "O planeamento é feito de acordo com o risco de cada distrito e o dispositivo está de acordo com o risco apresentado. Os parques naturais estão envolvidos no planeamento que é feito em cada um dos distritos".
 
O plano de combate a fogos florestais deste ano demorou cerca de oito meses a ser feito e o principal desafio é aumentar a capacidade do ataque inicial – nos primeiros 90 minutos.
 
Mais a sul, o responsável do núcleo regional de Portalegre da associação ambientalista Quercus, Nuno Sequeira, explicou que o Parque Natural da Serra de São Mamede (concelhos de Portalegre, Castelo de Vide, Marvão e Arronches) apresenta “alguns riscos”, mas não “tão acentuados” em comparação com outros, principalmente do Norte.
 
Ainda assim, entende que as manchas contínuas de pinheiro bravo, as zonas densas de eucaliptal e as áreas onde predominam as acácias são as que “preocupam mais”, bem como as vedações de grandes dimensões.
 
“Em caso de incêndio, podem criar problemas ao nível dos acessos. Serão, certamente, uma barreira muito grande”, disse, alertando que também colocam em causa a fuga de diversas espécies, sobretudo de mamíferos.
 
O comandante distrital de operações de socorro, Belo Costa, explicou que o dispositivo está montado “para a globalidade do território”, destacando que o parque de São Mamede possui “boas equipas”: pelos terrenos zelam duas equipas de vigilantes, quatro de sapadores e duas associações agrícolas e florestais (privadas).
 
Fonte da GNR explicou à Lusa que, além de estar instalado um posto de vigia num “ponto de relevo” deste parque, haverá na época de fogos um reforço de meios do SEPNA e das patrulhas lançadas pelos postos territoriais situados no interior do parque.
 
A Lusa tentou, sem sucesso, falar com o ICNF a propósito do Dia Europeu dos Parques Naturais.