Os manifestantes que na quinta-feira protestaram em frente à Assembleia da República apelaram ao fim da “violência policial racista” e exigiram a punição dos polícias envolvidos nos incidentes numa esquadra da Amadora, próxima do bairro da Cova da Moura.
“Basta de violência policial racista, basta de impunidade. Estamos aqui por uma exigência de justiça, porque, até agora, temos assistido a uma violência sistemática nos bairros, e essa violência nunca resultou em nenhuma responsabilização, seja política ou criminal. Desta vez queremos e esperamos que assim seja”, disse Mamadou Ba, do movimento SOS Racismo, à agência Lusa.
Contactada pela Lusa, fonte oficial da Direção Nacional da PSP afirmou que, “por estarem a decorrer processos” que visam averiguar a atuação policial nos acontecimentos de há uma semana, “não iria fazer comentários” sobre a manifestação, que juntou cerca de 300 pessoas.
Na quinta-feira da semana passada, cinco jovens, com idades entre os 23 e os 25 anos, foram detidos depois de, segundo a PSP, terem “tentado invadir” a esquadra de Alfragide, na sequência da detenção de um outro jovem no bairro da Cova da Moura.
A Inspeção-Geral da Administração Interna já anunciou que vai investigar a atuação da PSP.
“Queremos que esse inquérito vá até às últimas consequências e que os agentes responsáveis pelas agressões aos jovens, tanto no bairro como na esquadra, sejam criminalmente responsabilizados. Além de agredirem fisicamente, torturado os jovens na esquadra, humilharam-nos e usaram insultos racistas”, acrescentou Mamadou Ba, sublinhando que a polícia “não está acima da lei”.
Empunhando uma cartolina com fotos do filho, nas quais eram visíveis ferimentos na cara e no corpo, Cristina Rocha disse à Lusa que as nódoas e os inchaços são resultado de uma agressão policial, em 2013. Contudo, o processo foi arquivado pelo Ministério Público.
“As fotografias falam por si, da agressão policial que o meu filho sofreu. Sou uma mãe revoltada e triste pelo que fizeram ao meu filho, e não quero que este caso caia no esquecimento”, afirmou a mulher, natural da Damaia, Amadora.
Bruno Lopes foi um dos detidos. Segundo a versão do jovem, a PSP dirigiu-se ao Bairro da Cova da Moura e, ao fazer a revista de dois suspeitos, três polícias foram ter com ele, no momento em que falava crioulo com um primo.
O jovem contou à Lusa que, quando a população do bairro começou a manifestar-se, os polícias “começaram a disparar balas de borracha” e “atingiram com três tiros” uma senhora que estava na varanda com um filho.
Relatou que foi agredido pelos polícias a caminho e no interior da esquadra. Conta ainda que, quando os amigos, alguns educadores na associação Moinho da Juventude, chegaram à esquadra para se inteirarem da situação, “foram recebidos com balas de borracha, à bastonada” e acabaram também detidos.
Na manifestação esteve também sociólogo Boaventura de Sousa Santos, que se mostrou “indignado” com a atuação policial, que, em sua opinião, “violou os direitos humanos”.
O sociólogo referiu que alguns dos jovens envolvidos nos acontecimentos colaboram consigo num projeto de investigação.
“Foi um ato tresloucado. Além de ser um ato de violência física, envolveu também violência simbólica. Isto é, palavras de ódio racial que não é costume nas nossas forças de segurança e que me preocupam tremendamente”, frisou Boaventura de Sousa Santos, acrescentando que frases como “devem ser todos executados” e que “se houvesse pena de morte os ‘pretogueses’ deviam ser todos mortos”, não são habituais nos polícias portugueses.