Maratona de leitura lembra Natália Correia, 20 anos depois da morte da escritora

Uma maratona de leitura de poemas de Natália Correia realiza-se na Casa Fernando Pessoa (CFP), em Lisboa, na quinta-feira, entre as 12:00 e as 18:00, quando passam 20 anos sobre a morte da escritora.
Os diferentes participantes na maratona, entre os quais se encontram Hélia Correia, Fernando Dacosta e Maria Manuel Viana, vão ler, na biblioteca da CFP, poemas de Natália Correia, que faleceu aos 69 anos, no dia 16 de março de 1993, na sua residência em Lisboa.
Nesse mesmo ano, o Círculo de Leitores publicou a sua obra poética completa em dois volumes, "O Sol nas Noites" e "O Luar nos Dias".
Segundo fonte da CFP, na maratona de leitura participam também Ana Paula Costa, Jaime Rocha, António Carlos Cortês, Fernando Pinto do Amaral, Patrícia Reis e Leonor Xavier.
A mesma fonte afirmou à Lusa que "a escolha da biblioteca foi para criar um ambiente mais intimista, não havendo um palco e, assim, cada um dos que vão ler os poemas estão ao mesmo nível dos ouvintes". 
Natural da Fajã de Baixo, na ilha açoriana de S. Miguel, Natália Correia foi autora de uma vasta e diversificada obra que inclui ensaios, romances, teatro e poesia, tendo sido eleita como deputada independente à Assembleia da República entre 1979 e 1987, nas listas do PPD/PSD, e, em 1987, do extinto PRD, próximo do então Presidente da República António Ramalho Eanes.
Na década de 1930, Natália Correia, com a mãe, saiu dos Açores e fixou-se em Lisboa, onde no liceu mostrou interesse pelas publicações juvenis. Na década de 1940 foi jornalista, no Rádio Clube Português, e assinou as listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD), que se opunha ao Estado Novo. 
Em 1946, publicou num jornal o seu primeiro poema, "Manhã Cinzenta", e também o romance "Anoiteceu no Bairro".
Colaborou em diversas publicações e publicou o primeiro livro de poemas, "Rio de Nuvens", em 1947.
De reconhecida combatividade política, defensora dos direitos das mulheres, vários dos seus livros foram apreendidos pela Censura. 
Ainda durante o regime anterior ao 25 de Abril de 1974, participou nas diferentes campanhas presidenciais da Oposição Democrática, designadamente de Norton de Matos e Humberto Delgado e, em 1969, integrou a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD) que, entre outros nomes, contava com o de Mário Soares.
Em 1966, publicou a "Antologia de Poesia Erótica e Satírica", pela qual viria a ser julgada em 1970 e condenada a três anos de pena suspensa. Pouco depois, seria processada pela responsabilidade editorial das "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, publicadas originalmente em 1972.
Em 1968, publicou o livro de poesia "Mátria", título que dará anos mais tarde a um programa televisivo de sua autoria, em 1986, na RTP.
Natália Correia gravou poesia sua e, com Amália Rodrigues, José Carlos Ary dos Santos e José Fontes Rocha, um álbum de poesia medieval portuguesa.
Em 1971, com Isabel Meyrelles, constituiu uma sociedade que veio a dar origem ao bar Botequim, em Lisboa. No ano seguinte, escreveu o libreto da cantata cénica "Dom Garcia", de Joly Braga Santos.
A intelectual que recusou sempre ser referenciada como "poetisa", preferindo "poeta, pois a poesia é assexuada", como argumentava, foi distinguida com vários prémios literários e condecorações oficiais, tendo realizado várias viagens ao estrangeiro para ler os seus poemas e apresentar conferências.
O seu último combate, contra o Acordo Ortográfico, foi a Frente Nacional para a Defesa da Cultura que fundou em 1992 com, entre outros, José Saramago e Urbano Tavares Rodrigues.
Até ao fim de 2013, as Publicações D. Quixote contam editar a Obra Poética de Natália Correia, disse à Lusa fonte do grupo editorial LeYa.