Moradores e autarcas querem mais tempo para discutir plano de nova área comercial em Sintra

Moradores e autarcas de Sintra criticaram na quarta-feira a proposta do Plano de Pormenor da Abrunheira Norte (PPAN), que prevê mais uma grande superfície junto ao IC19, e pediram o prolongamento da consulta pública para esclarecimento das populações.
 
"Não temos necessidade de uma área de construção tão excessiva, nomeadamente em termos de comércio, porque já estamos completamente servidos de infraestruturas deste tipo", criticou Catarina Pinto, arquiteta e moradora, na sessão de esclarecimento sobre o PPAN, que na quarta-feira à noite levou meia centena de pessoas à escola básica da Abrunheira.
 
A proposta do PPAN, que se encontra em discussão pública até 12 de dezembro, prevê a construção em cerca de 70 hectares, no final do Itinerário Complementar 19 (Lisboa-Sintra), de uma área comercial da Sonae, serviços, hotelaria e parque urbano e de lazer.
 
Para Catarina Pinto, o plano apresenta pontos positivos, como a requalificação das ribeiras e a criação de um parque público, mas revela-se "inapropriado" pela elevada volumetria de construção, na ordem de 37.000 metros quadrados, para uma nova área comercial na proximidade da serra de Sintra.
Perante as questões que preocupam os moradores, nomeadamente relacionadas com a ausência de investimento em equipamentos públicos, novas acessibilidades e segurança, a moradora sugeriu alargar a discussão a mais zonas da vila e "estender o prazo de participação pública".
 
"Isto da Abrunheira não tem nada. Isto é um plano de Sintra", salientou Fernando Castelo, acrescentando que o PPAN "é um problema sintrense" e devia ser debatido com a população da vila.
 
Ainda assim, o morador notou que a escola básica da Abrunheira foi construída para 60 alunos, é frequentada atualmente por 177 e no plano não está prevista a ampliação do estabelecimento de ensino ou novas instalações desportivas para responder ao aumento populacional.
 
Fernando Castelo contestou também o anunciado "enquadramento paisagístico" do plano para a serra de Sintra, com a construção de edifícios com volumetria até cinco andares no final do IC19, às portas da vila classificada património mundial.
 
O presidente da União das Freguesias de Sintra (São Pedro, São Martinho e Santa Maria), Eduardo Casinhas, também apelou para o alargamento do período de discussão pública e apontou o risco de apenas o empreendimento da Sonae ser construído e os projetos hoteleiro e na área da saúde ficarem adiados.
 
Outro morador, Nuno Agostinho, recordou os exemplos no concelho de urbanizações que também prometiam espaços verdes, como a Tapada das Mercês, que não saíram do papel, e frisou que o projeto do parque urbano e de lazer, incluindo a "Sintra dos Pequeninos", vai aproveitar zonas de leito de cheia, que deviam ser requalificadas pela autarquia.
"As infraestruturas e as áreas públicas e o parque urbano são feitos todos de início, nem que se construa só um edifício", garantiu Ana Queiroz do Vale, diretora municipal de Ambiente, Planeamento e Gestão do Território da Câmara de Sintra, acrescentando que, entre os promotores, existe já a manifestação de interesse da Sonae para investir na área comercial.
 
A dirigente esclareceu que o plano recolheu pareceres positivos de diferentes entidades, nomeadamente em relação às questões ambientais e de equipamentos, e remeteu para decisão do presidente da autarquia um eventual alargamento do prazo da discussão pública.
 
O PPAN representa um investimento estimado "de 125 milhões de euros" e anuncia a criação de 1.800 postos de trabalho, mas uma petição na internet (www.change.org) contra a aprovação do plano, com 1.500 assinaturas, considera que "o impacto paisagístico das grandes construções em betão é negativo e irreversível no enquadramento da Serra de Sintra".