Nelson Évora 'reaprende a voar' e relança carreira de forma brilhante

Nelson Évora está a 'reaprender a voar' e a segunda fase da sua brilhante carreira, depois das gravíssimas lesões de 2012 e 2014, já se aproxima dos seus melhores momentos, quando foi campeão do mundo e olímpico, ainda muito jovem.
 
Os 17,52 metros que hoje lhe deram a medalha de bronze mundial no estádio olímpico de Pequim são o seu melhor desde 2009 e dariam para chegar ao pódio em todas as grandes competições que teve de falhar por lesão, inclusive os Jogos Olímpicos do seu 'ano zero', 2012.
 
Aos 31 anos, feitos em abril passado, Nelson tem razões para acreditar que vai ao Rio2016 com todos os sonhos por concretizar, já que desde 2012 tem vindo em crescendo de marcas, pouco a pouco, regressando às medalhas em que já muita gente não acreditava.
 
Fecha este ano com um título europeu de pista coberta e com esta medalha de bronze, atrás do segundo e melhores saltadores de todos os tempos, ainda inacessíveis para o campeão português, que não esconde que também ele quer "voar de novo" a pensar nos 18 metros.
 
De pais cabo-verdianos, Nelson nasceu a 20 de abril de 1984, em Abidjan, onde então o pai trabalhava. Laços à Costa do Marfim e mesmo a Cabo Verde são pequenos, já que está em Portugal desde os seis anos, com 'raízes' em Odivelas, na região da grande Lisboa.
 
Foi justamente em Odivelas que o seu treinador de sempre, João Ganço, o descobriu. O então professor de Educação Física, já um entusiasta de atletismo (criou um centro de treinos na Escola Secundária da Ramada), não teve problemas em convencer o vizinho e grande amigo do seu filho a experimentar as corridas e os saltos.
 
Dava para perceber que era um sobredotado, tanto no salto em altura como no salto em comprimento, e com 11 anos já se treinava no Benfica, com enorme sucesso como juvenil e júnior.
 
João Ganço percebeu que o grande sucesso poderia vir do triplo salto, que passou a ser a primeira opção muito clara, sobretudo a partir de 2004, o primeiro ano como sub-23.
 
Atenta ao potencial incrível de Nelson estava também a Federação Portuguesa de Atletismo, que tudo fez para que em 2002 estivesse naturalizado e pudesse representar Portugal. Logo aí começaram a cair recordes nacionais e as medalhas a aparecer.
 
O primeiro grande ano da carreira é 2006, quando ultrapassa pela primeira vez os 17 metros e sucede a Carlos Calado como recordista nacional. Era então, com 22 anos, um 'outsider' que já começava a ser notado nas grandes competições e o melhor não tardou a chegar.
 
Em 2007, em Osaca (Japão), é campeão do mundo, com 17,74 metros, o recorde nacional. Em 2008, em Pequim2008, é campeão olímpico, com 16,67, e em 2009, em Berlim, é vice-campeão, com 17,55. Tinha então 25 anos e muito tempo para progredir, ainda.
 
Mas as lesões começaram a aparecer, a 'minar' a brilhante carreira. Em 2010, uma fratura de esforço na tíbia levou à primeira interrupção importante, falhando os Europeus.
 
Em 2011, nova lesão no calcanhar, antes do seu verdadeiro 'ano zero', que foi 2012.
 
De novo, fratura na tíbia no aquecimento para uma prova, logo no início da época. Depois da operação temeu-se o pior, em termos desportivos, já que não competiu em 2012 e regressou no ano seguinte sem conseguir os mínimos para os Mundiais.
 
O joelho direito também deu problemas, em 2014, obrigando a artroscopia, mas nesse mesmo ano estava já em crescendo, chegando a um muito interessante sexto lugar nos Europeus de Zurique.
 
Sempre disse que queria voltar ao seu melhor e que a carreira não estava terminada, com a 'sequência negra' de lesões. Provou-o este ano, passando várias vezes os 17 metros e terminando a época com uma medalha de ouro nos Europeus 'indoor' e o bronze - a única que lhe faltava... - nos Mundiais.
 
Em crescendo desde 2013, cria as melhores esperanças para os Jogos Olímpicos e reafirma que ainda não deixou de pensar nas metas de que falava há seis anos - a barreira dos 18,00 metros e o mítico recorde do mundo do britânico Jonathan Edwards (18,29).