“O sonho imediato é tocar pelo mundo inteiro”

Primeira entrevista de Salvador Sobral após o transplante de coração

 
Com o Festival Eurovisão a aproximar-se a passos largos, a 12 de Maio, os últimos dias ficaram marcados pela primeira aparição pública de Salvador Sobral, o herói de Kiev, após a operação de transplante de  coração a que foi submetido. 
Em entrevista ao Telejornal, o vencedor da Eurovisão reconheceu que o ano de 2017 foi tudo menos normal. ‘Amar pelos dois’, uma letra e música da irmã Luísa, fê-lo saltar para a ribalta e conquistar a fama no panorama musical. Pela primeira vez, Portugal venceu o festival da canção do velho continente. Mas, para Salvador Sobral, a maior vitória ocorreu no Hospital de Santa Cruz (Carnaxide), quando foi operado ao coração. 
Salvador recordou as experiências únicas que viveu em 2017: “Imaginei que estou num café em Paris e alguém me pergunta: ‘Então, como é que foi o teu ano de 2017?’. Nada de especial. Ganhei o maior concurso pop europeu e toda a gente me conhecia, de um dia para o outro, no país. Uns meses depois, enfiei-me num quarto de hospital, durante quatro meses, e fiz um transplante de coração”. “Foi o ano mais díspar que alguém poderia imaginar”, salientou o músico.
Questionado pelo jornalista João Adelino Faria sobre o que sentiu quando acordou da operação, sublinhou: “Não senti nada. É uma experiência fora desta realidade”.
Tiveste medo? “Seria um cubo de gelo se não tivesse medo”, reconheceu o intérprete que, no entanto, prefere não perder muito tempo a avaliar esta experiência. “Eu tinha este problema, agora está resolvido, vamos lá começar a tocar que é o que eu gosto”, enfatizou, acrescentando que também não quer conhecer a origem do seu novo coração. Interpelado se se sente diferente, contrapõe que a inspiração “está na alma. O coração é um músculo, a alma é a mesma”. 
Salvador Sobral dá conta que o tratamento influenciou-o de “uma maneira muito física”, como os medicamentos que fazem com que a voz “esteja um pouco frágil”, mas acredita que “vai voltar ao que era”. Afirmando-se mais como intérprete,  já que compõe quando um amigo o obriga, Salvador Sobral vai regressar aos palcos em breve, com o seu projecto com Júlio Resende, denominado Alexander Search (dedicado à poesia de Fernando Pessoa e do seu heterónimo), com os primeiros espectáculos a decorrerem nos arquipélagos. “Vamos fazer um renascimento nos Açores e na Madeira. Vai ser giro!”. 
O músico, que lançou o seu primeiro álbum em Maio de 2017, está já a trabalhar no novo trabalho, para o qual convidou alguns compositores (Mário Laginha) e Samuel Úria) e escritores (Miguel Esteves Cardoso e Gonçalo M. Tavares).
Sobre a fama e reconhecimento  internacional nas redes sociais, classifica como “engraçado e um bocadinho insólito, mas é giro”. Em relação a influenciar  a vida de quem o ouve a cantar, confessa que canta “para tocar as pessoas, influenciá-las, para as fazer pensar e questionar”.
Aos jovens que sonham em ser o próximo Salvador Sobral, deixa apenas um único conselho: “Vão estudar, é importante estudar música, e ter canções originais”. 
Em relação aos seus anseios, Salvador Sobral sublinha que “o sonho imediato é viajar  e tocar pelo mundo inteiro. Descobrir culturas”. “Que melhor maneira de descobrir o mundo do que tocar lá?”, questiona, enunciando cidades como Bogotá e Caracas, já que se afirma apaixonado pela América do Sul. 
“Mostrar   a minha música às pessoas, levar músicas em português e em qualquer língua”, reforça, deixando a quase certeza de que voltará a cantar na final do Festival da Eurovisão, este ano, em Lisboa, a 12 de Maio.