Pescadores de Paço de Arcos querem melhores condições para trabalhar

Vários pescadores que usam o edifício de apoio de Paço de Arcos, na Praia Velha, estão revoltados com a falta de condições para garantirem o seu ganha-pão. A escassez de espaço para guardarem utensílios de pesca, a cobertura que deixa passar chuva para o interior, a inexistência de um local para convívio ou trabalho administrativo, são algumas das queixas. Críticas que os homens do mar que ali labutam transmitiram ao presidente da Câmara, numa visita de trabalho recente àquela estrutura.
A última gota de água foi a notícia de que o 1º piso, vazio depois de ter sido ocupado por um grupo de escuteiros marítimos, poderá ser entregue a uma associação motard…
“O edifício é muito bonito sim senhor, parece um navio e tudo, só que os encalhados estão cá dentro”, atira Carlos Dias, com amarga ironia. “Parece que fizeram isto para gente que entra e sai daqui com um livro debaixo do braço, mas não para pessoas que estão aqui a ganhar o seu sustento com muito sacrifício”, complementa.
“Que sentido é que faz colocar motards num edifício que – como diz ali na placa da inauguração – é dos armadores e pescadores?”, questiona outro homem do mar.
A escassez de espaço é o que resulta das contas feitas por Carlos Dias: na Praia Velha “há 23 armadores com as tripulações aqui dentro, sendo que cada armador pode andar sozinho ou ter três ou quatro pessoas”. Havendo apenas 25 cacifos, a conclusão é que estes “foram feitos só para os armadores, esqueceram-se da tripulação”. Daí que muitos deles acabem por ser partilhados. Por outro lado, no total, existirão cerca de 50 embarcações naquela zona de pesca, o que indicia uma lista de espera extensa… 
Tal como os cacifos, também o rectângulo “conquistado” ao vizinho Centro Náutico está lotado, com a desordem inerente à falta de espaço. Carlos Dias avançou mesmo para a “construção” de um 1º piso usando andaimes. “Tudo o que aqui está é necessário à nossa actividade diária”, garante, apontando redes, armadilhas e muitos outros apetrechos.
Na sua óptica, “podia ter-se evitado gastar muito dinheiro em remendos sucessivos. Bastava que levassem a sério a nossa opinião e as nossas necessidades concretas logo desde o início”.
João Costa, nos seus 32 anos, é dos mais novos pescadores, mas anda na faina em Paço de Arcos desde os seis, acompanhando o pai, o “Quim Careca” como é mais conhecido António Joaquim.
“Com uma sede lá em cima, teríamos alguém em permanência para receber os pescadores e tratar dos seus problemas num sítio adequado, não é aqui em baixo onde não há espaço para nada”, explica o jovem, apontando o fogão perto da entrada dos sanitários. Nos dias de vento, chuva e frio “não é propriamente convidativo estar aqui”, faz notar.