Os arquitetos Filipa Roseta e Francisco Vaz Monteiro venceram o prémio "Habitar o Mediterrâneo 2013" pela Igreja da Boa-Nova no Estoril (Cascais), um projeto que quis ajudar a mudar a paisagem do antigo bairro de barracas do Fim do Mundo.
O prémio atribuído pela União dos Arquitetos do Mediterrâneo, que nesta terceira edição teve como tema "a arquitetura religiosa para a integração cultural", será entregue no sábado em Selinunte, na região italiana da Sicília.
O projeto, construído de forma faseada entre 2008 e 2011, visou ser "uma referência urbana física, social e comunitária" para um bairro novo, que deixou de ser um bairro degradado, disse à Lusa a arquiteta Filipa Roseta.
"Queríamos criar uma referência na paisagem que mostrasse que já não havia o bairro de lata do Fim do Mundo, mas a Boa-Nova", contou.
Além da torre da igreja, outra das referências é o pátio, "onde acontecem todos os eventos comunitários", para "criar espaço onde a vida da comunidade tenha presença", disse.
"Acho que isso foi relevante no prémio, porque procuravam o impacto da obra na vida das comunidades", afirmou a arquiteta.
O projeto inclui a igreja, um centro comunitário, uma escola básica e um auditório, aglomerando uma série de funções sociais que se complementam à igreja, com o centro comunitário a albergar uma creche, um lar de idosos e um serviço de apoio domiciliário, entre outros programas para a comunidade.
Para Filipa Roseta, prémios como este servem para dar fôlego a uma nova geração de arquitetos, que têm que continuar os caminhos traçados por Álvaro Siza Vieira ou Souto Moura, mas "com custos muito mais controlados".
"A arquitetura portuguesa é das melhores do mundo. Com a crise, se a arquitetura parar, paramos um comboio que andava a alta velocidade. Como não há obras, corremos o risco de não estar no panorama internacional que Siza e Souto Moura nos deixaram", defendeu.
Contudo, a arquiteta disse que "há muitos ateliês novos a fazerem coisas interessantes com custos controlados".
No caso da Igreja da Boa-Nova, "os custos foram controladíssimos, a obra não podia derrapar um único euro, porque o dinheiro tinha que ir o máximo possível para a parte social".
A igreja custou 12 milhões de euros, já com o equipamento interior, financiados, de acordo com Filipa Roseta, na sua maioria pela Igreja.
O projeto da Igreja da Boa-Nova já tinha sido considerado uma das 500 melhores obras de arquitetura do mundo dos últimos 5 anos no World Atlas of Architecture, editado pela Braun Publishing em 2012, e tinha sido finalista dos prémios do Archdaily Daily, em 2011.