A vice-presidente da Quercus afirmou hoje ser “absolutamente inadmissível” que se avance com projetos como a ligação ferroviária ao futuro terminal de contentores da Trafaria sem que se conheça o projeto para aquele porto.
“O que nós consideramos que é absolutamente inadmissível é que ninguém conhece o projeto do terminal de contentores [da Trafaria]e já se estão a avançar com intenções e propostas de projeto que ninguém conhece”, sublinhou Carla Graça, em declarações à agência Lusa.
A construção de uma ligação ferroviária ao futuro terminal de contentores da Trafaria (Almada) custará 160 milhões de euros, numa extensão de 7,9 quilómetros, e deverá estar concluída no segundo semestre de 2019, disse na terça-feira o presidente da Refer no Parlamento.
A Quercus disse queje que vê “com bastante surpresa” que, “sem se conhecer o projeto em si [o projeto principal, que é o do Porto de Lisboa]”, se avance “já com intenções de projeto, até com algum detalhe, dos projetos associados”.
Para Carla Graça, está-se “uma vez mais, à semelhança do que aconteceu em projetos anteriores, perante uma inversão total do processo de planeamento”.
“Nós já solicitámos informação ao Porto de Lisboa sobre o projeto do terminal de contentores da Trafaria há largas semanas e ainda não obtivemos resposta”, referiu.
Aos deputados das comissões parlamentares de Economia, de Ambiente e de Agricultura e Mar, o presidente da Refer, Rui Loureiro, adiantou que o traçado escolhido é aquele que tem menor impacto ambiental - o caminho-de-ferro terá de atravessar a arriba fóssil da Costa da Caparica (Almada), classificada como área protegida.
Para minimizar os impactos ambientais, o traçado, entre o terminal e a linha do sul, na zona do Pinhal Novo, terá três túneis e três viadutos.
“Este projeto específico da linha da Trafaria, em nosso entender, terá enormes impactos ambientais, como é óbvio, é uma área protegida”, defendeu Carla Graça.
O presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) considerou também “inadmissível” e “ilegal” a ligação ferroviária ao futuro terminal de contentores da Trafaria através da arriba fóssil da Costa da Caparica.
“Os impactos serão certamente muito significativos. Deve-se pensar seriamente se a obra deve ser feita ou não. A pouca informação que há sobre o projeto indica que é uma obra com utilidade duvidosa, com custo elevadíssimo e com impactos ambientais e sociais altamente lesivos, para além de uma metodologia de decisão inadequada”, frisou Joanaz de Melo, na terça-feira, em declarações à Lusa.
Para a vice-presidente da Quercus, está-se “na presença de decisões tomadas, com viabilidade duvidosa, que não se percebe sequer a justificação técnica e económica para se instalar o porto na Margem Sul”.
O projeto do Governo para a reestruturação do estuário do Tejo (relativo ao Porto de Lisboa, que abrange também municípios da margem sul) prevê a construção de um novo terminal de contentores na Trafaria, orçado em mil milhões de euros.