O romance "Horizonte e Mar", de Paula Cristina Rodrigues, vencedor do Prémio Agustina Bessa-Luís, no ano passado, é apresentado no sábado, no Casino Estoril, pelo escritor Miguel Real.
O romance que ficciona a vida de uma família de Matosinhos, desde a década de 1940 até ao século XXI, é apresentado na galeria de arte do Casino Estoril, no âmbito da inauguração do XXXIV Salão Internacional de Pintura Naif.
"Francisca", peixeira de Matosinhos, é a protagonista desta narrativa. Como escreve a autora, Francisca, "com a canastra à cabeça, percorria as ruas de Matosinhos em direção ao Porto, passando pela Fonte da Moura, local onde já tinha clientes habituais". Ela "era o homem e a mulher da casa, enquanto o marido estava fora" e torna-se na chefe da família quando o deixa, ao descobrir que este, de seu nome Amadeu, "um belo 'peixão'", se tomara de amores por uma tricana poveira "de beleza estonteante".
A narrativa segue o percurso desta mulher, mãe de cinco filhos - o mais velho, ainda menino, já vendia cruzetas na porta do mercado -, e da sua família, desde 1947 até 2013, o ano em que Paula Cristina decidiu enviar o romance inédito para se candidatar ao Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís/Estoril Sol.
"Foi a minha primeira tentativa, nunca tinha escrito nada antes, na área da ficção, e decidi concorrer, longe de saber que poderia ganhar como aconteceu, e me deixou surpresa e muito contente". "Foi uma tenativa certeira", disse Paula Rodrigues, que é professora de Português e Francês e que, no ano passado, editou, na área da ficção infantil, "Bicharada à desgarrada".
Apesar de a ação narrativa se desenvolver em Matosinhos, onde a autora sempre viveu, Paula Rodrigues, em declarações à Lusa, realçou que se trata de uma "obra que extravasa o contexto regional e não deve ser vista apenas dentro dele".
"Há pessoas com sentimentos à flor da pele em todo o lado. Eu decidi situar esta história no ambiente de Matosinhos", disse.
Para escrever aquele que é o seu primeiro romance -- está um segundo, "muito diferente", na calha --, Paula Cristina Rodrigues afirmou ter recorrido a "memórias longínquas, a testemunhos, a histórias que [lhe] contaram e pesquisas".
"Depois misturei tudo isto com uma grande dose de ficção", rematou.
Por outro lado, o mar é, para a autora, um tema propício, já que este "encerra uma série de tragédias", o que estimula a imaginação.
A par da pesquisa histórica sobre os lugares -- a ponte de pedra que ligava Leça a Matosinhos e que deu lugar à primeira ponte móvel do país, com o alargamento do porto de Leixões -- a narrativa de "Horizonte e Mar" está pontuada de regionalismos, expressões típicas daquela zona do país, como as "ilhas", conjunto de habitações humildes, alinhadas ao longo de um arrumamento particular central, ou as "carrejonas", mulheres que carregavam o peixe desde os barcos até à lota, entre outros.
"Muitos deles caíram em desuso, ou são usados apenas pelos mais velhos, mas fiz questão de os usar para que a memória não se perca e porque são identitários, não só de uma região como de determinados meios sociais", frisou.
A autora qualificou a narrativa da obra como um "realismo exacerbado", não enjeitando influências de autores neorrealistas, sem citar nomes.
A obra é editada pela Gradiva e a sessão de lançamento está marcada para sábado, às 17:30,na inauguração do salão de pintura, que reúne 60 trabalhos de 32 autores, segundo informação da Estoril-Sol.
Entre os artistas que expõem, a galeria destaca as participações de Isabelino Coelho, Francisco Silva, Emil Pavelescu e Antonio Poteiro.