O escultor Rui Chafes venceu o Prémio Pessoa 2015, foi hoje anunciado pelo júri no Palácio de Seteais, em Sintra.
“Rui Chafes consegue o feito raro de produzir uma obra simultaneamente sem tempo e do seu tempo”, disse hoje o presidente do júri do Prémio Pessoa, Francisco Pinto Balsemão.
Com um valor monetário de 60.000 euros, o prémio reconhece a intervenção de uma personalidade portuguesa na vida cultural e científica do país.
Na conferência de imprensa, José Luis Porfírio, outro dos elementos do júri, sublinhou “a longa e consciente ligação de Rui Chafes a uma tradição de escultura”.
Rui Chafes nasceu em Lisboa, em 1966, e é licenciado em escultura pela Escola Superior de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Esta é a primeira vez que um escultor é premiado com o Prémio Pessoa.
Segundo o júri “Rui Chafes consegue o feito raro de produzir uma obra simultaneamente sem tempo e do seu tempo”.
A quando da sua exposição antológica “O Peso do paraíso”, realizada no ano passado, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Bárbara Valentina escreveu: “Há uma procura de transcendência na obra de Rui Chafes a que a utilização do ferro como matéria-prima não é alheia. O ferro vem das profundezas da terra e é um dos elementos mais abundantes no universo; dentro do corpo humano é o responsável pelo transporte de oxigénio no sangue. É desta forma que Chafes trabalha este material: como algo que vem do âmago e ao mesmo tempo permite uma tal leveza e delicadeza que consegue conter o ar”.
Entre 1990 e 1992, Chafes estudou com Gerhard Merz, na Kunstakademie, em Dusseldorf, na Alemanha. É durante a sua estadia na Alemanha que traduziu “Fragmentos de Novalis” (1992), que ilustrou com desenhos seus.
Francisco Pinto Balsemão recordou que as primeiras exposições de Chafes, em 1986 e 1987, “são marcadas pela criação de instalações com materiais precários, que, de pronto, foram substituídos por ferro pintado de preto; um meio mais eficaz de ocupar e desenhar o espaço, que subverte as condicionantes normais do museu e da galeria, como se viu na sua exposição do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian”.
Uma exposição de Chafes “Desenhar” está atualmente patente no Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa, onde “a sua obra entra em contraponto com o desenho de Pomar, flutuando no espaço central do ateliê”, disse Balsemão.
O escultor está também representado na exposição “Anozero – Família de Rui Chafes e Pedro Costa com Jean-Marie Straub & Danièle Huillet”, patente no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.
Em Vila Nova de Famalicão, na Galeria de Arte Contemporânea Ala da Frente, estão patentes três peças de Chafes na exposição "Exúvia”. O escultor assina as peças de grande dimensão “Inferno XXXV”, “Escurecer e arrefecer” e “Confiai nos Sonhos”.
“Inferno XXXV”, “Escurecer e Arrefecer” e “Confiai nos Sonhos” são as três obras de Rui Chafes – anunciado hoje como vencedor do Prémio Pessoa 2015 -, que podem ser apreciadas na Galeria de Arte Contemporânea “Ala da Frente”, em Vila Nova de Famalicão, até ao dia 23 de Janeiro.
O presidente do júri realçou que Chafes “tem realizado importantes trabalhos, em colaboração com artistas de outras disciplinas”, designadamente “Comer o coração”, com a bailarina e coreógrafa Vera Mantero, na Bienal de São Paulo, em 2004, e “Fora/Out”, com o cineasta Pedro Costa, na Fundação de Serralves, no Porto, entre 2005 e 2006
A sua obra tem sido editada em sucessivos volumes, referiu Balsemão, entre eles, “Würzburg Bolton Landing”, com as peças de 1987 e 1994, “Harmonia”, com esculturas de 1995 a 1998, “Durante o fim” para a exposição antológica realizada em Sintra, no Parque da Pena e no Museu da Coleção Berardo, em 2000, e “Um Sopro” e “Entre o Céu e a Terra (A história da minha vida)”, 2012, que “é, fundamentalmente, um mergulho nas suas próprias raízes, que vai até ao coração da Idade Média, 1266”.
É neste volume, editado pela Documenta, que escreve: "Vivemos numa época sem estética. Não temos falta de imagens, bem pelo contrário, sofremos a excessiva e invasora proliferação de imagens. O problema é a falta de conhecimento sério e de imagens credíveis, cuja ética de construção seja o seu valor mais intrínseco (...). É impossível viver só com imagens vazias".
O júri desta 29.ª edição do Prémio Pessoa foi presidido por Francisco Pinto Balsemão e constituído ainda pelo presidente da Caixa Geral de Depósitos Álvaro Nascimento (vice-presidente do júri), o sociólogo António Barreto, a jornalista Clara Ferreira Alves, o catedrático da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa Diogo Lucena, o arquiteto Eduardo Souto de Moura, o neurocirurgião João Lobo Antunes, o historiador de arte José Luís Porfírio, as cientistas Maria Manuel Mota e Maria de Sousa, o presidente executivo da Impresa, Pedro Norton, e ainda por Rui Magalhães Baião, do Grupo de Alto Nível da Universidade do Minho, pelo musicólogo Rui Vieira Nery e pelo catedrático de Filosofia da Universidade de Lisboa Viriato Soromenho-Marques.
Com um valor monetário de 60.000 euros, o prémio reconhece a intervenção de uma personalidade portuguesa na vida cultural e científica do país.
O Prémio Pessoa é uma iniciativa do semanário Expresso com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos.