Rui Rio ao lado de António Capucho e Marco Almeida aponta o dedo ao 'enfraquecimento do poder político'

O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio apontou "o enfraquecimento do poder político" como principal motivo para a situação do país e, numa conferência em Sintra, defendeu que só "uma reforma profunda" pode ultrapassar a atual crise.
 
"O ponto mais crítico, aquele que é preciso atalhar mais depressa, é justamente o enfraquecimento do poder político", frisou terça-feira à noite o antigo deputado do PSD, enunciando também a necessidade de reformar o sistema judicial e de se acabar com "os julgamentos na praça pública".
 
Rui Rio participou na conferência "E se nada se fizer, 41 anos depois?", promovida na terça-feira à noite pelo movimento independente Sintrenses com Marco Almeida (SMA), no Hotel Tivoli Sintra.
 
O enfraquecimento do poder político levou a que os governantes portugueses tenham permitido, nos últimos três anos, no aumento dos impostos e cortes de salários e pensões por imposição dos "credores", vincou o histórico social-democrata.
 
"Tirando a componente política, a justiça hoje, naquilo que é o dia-a-dia do cidadão, responde pior do que respondia antes do 25 de Abril", criticou o social-democrata, dando como exemplo a dificuldade para cobrar qualquer dívida.
 
Uma vez que o sistema de justiça não tem demonstrado capacidade "para se autorreformar", Rui Rio preconizou que, embora com respeito pela separação de poderes, deve existir "mais escrutínio e responsabilização" no setor judicial.
O antigo presidente da Câmara do Porto, durante três mandatos, defendeu a "reforma do sistema político", quer na eleição para a Assembleia da República, quer "através da regionalização", como condição essencial para a sobrevivência da democracia.
 
O anterior presidente da autarquia portuense, em resposta aos participantes que quiseram saber da sua disponibilidade para regressar á atividade política, nas próximas legislativas ou nas presidenciais, prometeu apenas que vai "estar atento" ao desejo das pessoas.
 
"Se eu sentir que realmente há um desejo muito grande das pessoas de eu poder voltar à vida pública, então provavelmente não irei defraudar as pessoas", respondeu Rui Rio, acrescentando que se não sentir que existe "essa força" está bem na sua atual vida profissional e cívica.
 
No debate do ciclo "Sintra em Conferência", promovido desde maio de 2014 pelo movimento SMA, estiveram também presentes os ex-presidentes das câmaras de Lisboa Carmona Rodrigues, de Mafra Ministro dos Santos e de Cascais António Capucho, todos eleitos pelo PSD.
 
O antigo dirigente social-democrata António Capucho, crítico da política de Pedro Passos Coelho e que foi expulso do PSD por ter liderado uma candidatura do movimento de Marco Almeida para a Assembleia Municipal de Sintra, onde é atualmente deputado, ironizou que os quatro "ex-autarcas" desempenharam funções em quatro câmaras que "somam quase 25% da população portuguesa".
 
A propósito da resposta de Rui Rio quanto às condições para aceitar novos desafios, António Capucho notou que a quase totalidade dos presentes estaria na disposição de fazer o ex-autarca do Porto "pressentir" a necessidade de regressar à atividade política.
 
O vereador independente Marco Almeida, ex-vice-presidente da autarquia pelo PSD, salientou que o debate teve mais de uma centena de participantes porque "foi organizado por um movimento de cidadãos, onde cabem muitas sensibilidades ideológicas e onde cabem muitos daqueles que estão desprendidos com a vida política", mas que querem participar.
Texto: Lusa
Foto: David Gordilho/SCMA