Shakespeare "À vossa vontade" estreia-se quinta-feira no Nacional D. Maria II

A comédia “À vossa vontade”, de William Shakespeare, que se estreia na quinta-feira, em Portugal, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, é "um manifesto" de que ainda "é possível fazer teatro", afirma o encenador Álvaro Correia.
O encenador salienta a importância de “fazer este espetáculo no Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), o que considera “uma responsabilidade acrescida”, na medida em que “todos os intervenientes criativos e artísticos se propõem a realizá-lo como se fosse um manifesto, mostrando que ainda se pode acreditar que é possível fazer teatro e onde se procura uma cumplicidade com o público, em que este seja ativo e vivo, e não se esconda no conforto e no escuro da sala”.
A peça é “uma estreia nos palcos portugueses, nunca tendo sido produzida na íntegra, nos últimos 200 anos”, afirma Álvaro Correia que sublinha a importância desta peça “no momento conjuntural e adverso em que se vive, em que assistimos impassíveis ao desaparecimento de uma parte importante do tecido artístico e teatral”.
A peça, uma produção do TNDM e da companhia A Comuna-Teatro de Pesquisa, conta com as interpretações de Álvaro Correia, Carlos Paulo, Carlos Vieira de Almeida, Cristina Carvalhal, Cucha Carvalheiro, Eduardo Breda, Elsa Galvão, Fernando Gomes, F. Pedro Oliveira, Hugo Franco, João Lagarto, João Vicente, Manuela Couto, Rogério Vieira, Vítor Norte e dos estagiários Gonçalo Botelho e Rogério Vale.
Em comunicado, o TNDM, refere-se ao texto do autor inglês, escrita em 1599, como uma “história brilhante, pelo engenho e sagacidade com que é construída”.
“Uma celebração da força libertadora do amor e do espírito redentor da natureza, em que se profere a verdade inesquecível – ‘Todo o mundo é um palco, e todos os homens e mulheres meros atores’".
“Shakespeare condensa neste texto várias visões do mundo, numa sequência de divertidas peripécias e jogos”, lê-se no mesmo comunicado.
A ação dramática passa-se em dois locais cénicos, a Corte, de onde são expulsos os duques, e a Floresta das Ardenas.
“Na Corte, onde o poder é detido por um duque usurpador, totalitário e opressivo”, e na Floresta das Ardenas, “que representa o local da liberdade, onde tudo é Possível”, escreve o encenador que sublinha: “Para mim, esse é o lugar do teatro por excelência, onde a arte pode ser (ainda, talvez) maior do que a vida”.
O encenador chama a atenção para a escolha do elenco que “comporta, por si só, uma leitura: a idade dos atores que representam os papéis principais é superior a 45 anos, contrariamente à proposta de Shakespeare”.
“É para nós pertinente convocar um elenco maduro, no qual o motor do espetáculo seja o próprio jogo do teatro e do próprio espaço teatral onde este vai ser representado”, justifica Álvaro Correia.
“Uma maior maturidade do elenco constitui uma força moral e ética, em que a experiência é um fator de caráter político”, afirma.