Trafaria aprova resolução contra mega terminal de contentores

A população e autarcas do concelho de Almada decidiram este sábado iniciar uma petição contra a construção de um mega terminal de contentores na Trafaria, a ser entregue na Assembleia da República. Este é apenas um dos pontos de uma resolução aprovada que considera ser um “atentado ambiental, social, económico e histórico” construir um terminal que irá ocupar quase 300 hectares de uma localidade com apenas cinco quilómetros quadrados.

O projecto apresentado na última sexta-feira pelos ministros da Economia, da Defesa e dos Assuntos Parlamentares visa a reestruturação do Porto de Lisboa e define para a Trafaria um terminal de contentores que prevê movimentar cerca de 2 milhões de TEU. Um anúncio que indignou os autarcas do concelho de Almada e mobilizou a população da Trafaria num “não” à decisão do governo.

Com a sala da Sociedade Recreativa Musical Trafariense cheia, ouviram-se vozes de indignação com a população a defenderem uma freguesia que quer desenvolver-se com base no seu potencial turístico. É que com o terminal de contentores, a localidade será atravessada por uma linha ferroviária com ligação ao Poceirão. “Estes investimentos só existem com grandes acessibilidades para transporte de mercadorias”, alertava a presidente da Junta de Freguesia da Trafaria, Francisca Parreira.

Para a autarca socialista esta decisão do Governo “é a morte” de uma freguesia que “há muito anseia pela requalificação como destino turístico e de lazer”, e que pretende manter a pesca como actividade económica. Actividades que estão definidas no Plano Regional de Ordenamento da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML) aprovado por autarcas, população e agentes económicos. “Existe uma visão estratégica para a Trafaria que passa pela requalificação urbana e valorização ambiental”.

Aliás, segundo a presidente da Câmara de Almada, a decisão do Governo de transformar a Trafaria num porto de contentores é praticamente ilegal. Maria Emília de Sousa lembra que este projecto "não é novo" e já foi motivo de discussão no âmbito da revisão do PRO-AML. Revisão que não avançou e, portanto, “o que está em vigor é o anterior PROT-AML que não prevê contentores na Trafaria”.

Contudo, em Junho deste ano o Governo decidiu avançar com termos de referência para iniciar um novo processo de revisão deste plano. Mas a edil afirma já ter avisado os governantes para “não comprarem uma guerra”. É que autarcas e população do concelho “não lhes vão dar tréguas”, garantiu.

E, de facto, foi grande o descontentamento que se ouviu na sala do Trafariense contra o terminal de contentores. Com moradores do 2.º Torrão e da Cova da Vapor – localidades absorvidas por este mega equipamento – a interrogarem-se onde irão residir, outros munícipes defendiam o direito à qualidade de vida. Houve ainda quem apontasse formas de luta desde bloquear os acessos à margem sul ou a serem colocados lenços negros em sinal de luto contra os contentores. O próprio pároco da Trafaria, Sérgio Quelhas, interrogava sobre a prática democrática do actual governo que vai “contra a vontade da população”.

Numa contestação que uniu todos os partidos representados no poder local de Almada, a população aprovou uma resolução que condena o Governo por ter feito “tábua rasa” das decisões tomadas anteriormente contra o terminal de contentores e exige ainda que sejam retomados os projectos estratégicos do Arco Ribeirinho Sul e da Costa da Caparica. O mesmo documento legitima o município a recorrer a todas as instâncias judiciais nacionais e, se necessário, ao Tribunal Europeu para impedir a construção deste terminal de contentores.

E como já tem vindo a ser habitual quando se trata de contestar o Governo PSD/CDS, também na Trafaria, no final do encontro, ouviu-se em coro o “Grândola Vila Morena”.