O Ministério Público junto do Tribunal de Cascais decidiu hoje abrir um inquérito à detenção do vereador da CDU, Clemente Alves, detido na terça-feira quando participava num protesto contra uma obra em São João do Estoril.
"Fizemos um requerimento probatório e contradissemos os factos que vinham no auto da polícia, por não serem verdadeiros, o senhor vereador não resistiu a ninguém, não agrediu ninguém, muito pelo contrário", afirmou à Lusa o advogado do autarca.
Segundo Pedro Varino, o magistrado do Ministério Público despachou no sentido de "abrir o inquérito para apurar a verdade material dos factos", e agora vai aguardar pelo "decorrer das diligências da investigação, nomeadamente ouvir as testemunhas".
"Esperamos pelo despacho de arquivamento, como é lógico, e se possível de acusação contra a agressão" que terá sido praticada contra o vereador, acrescentou o advogado.
De acordo com Pedro Varino, a defesa ainda não apresentou queixa contra a PSP, mas deu conta de uma agressão contra o vereador da CDU, e "uma vez que é um crime de natureza pública, o Ministério Público já tem conhecimento dele e irá proceder em conformidade".
O vereador Clemente Alves escusou-se hoje a falar sobre a detenção, na terça-feira, quando participava numa manifestação contra uma obra na Quinta da Carreira.
Em declarações anteriores à agência Lusa, o autarca explicou que se encontrava numa ação de protesto a convite de alguns moradores que contestam a construção de um parque de estacionamento "numa zona de Reserva Ecológica Nacional", quando chegaram cerca de dez polícias.
"Um graduado da PSP dirigiu-se a mim de uma forma agressiva, instando-me a abandonar o local. Identifiquei-me como vereador, estávamos num protesto pacífico, mas continuou a dizer: 'saia daqui imediatamente' e deu-me um primeiro empurrão. Deu-me um segundo empurrão, caí ao chão e um conjunto de agentes policiais algemou-me e levou-me para a esquadra da PSP do Estoril", relatou Clemente Alves.
O vereador e cabeça de lista da Coligação Democrática Unitária (CDU) à Câmara de Cascais nas próximas eleições autárquicas de 01 de outubro foi notificado para comparecer hoje no Tribunal de Cascais.
Uma fonte do Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da Polícia de Segurança Pública explicou anteriormente à Lusa que o vereador foi detido por resistência e coação sobre funcionário, por "não obedecer às ordens e resistir" a abandonar o local.
"Os agentes policiais tentaram que o vereador abandonasse o local, mas este tratou mal um polícia, desobedeceu às ordens e resistiu. Foi detido e levado para a esquadra do Estoril", indicou o Cometlis.
"Não entendo como é que a PSP pode sustentar essa acusação. Não resisti a coisa nenhuma. Apenas interpelei o graduado sobre a presença policial no local e acabei agredido. Eu é que fui agredido, lançado ao chão, manietado e levado algemado para a esquadra. Houve manifestamente uso excessivo da força por parte da polícia", contrapôs Clemente Alves.
Moradores na Quinta da Carreira, em São João do Estoril, estão contra a construção de um parque de estacionamento perto da estação ferroviária de São João do Estoril, junto a um troço da ribeira de Bicesse, numa área de Reserva Ecológica Nacional.
Segundo a Cascais Próxima, empresa que gere a mobilidade e os espaços urbanos, o parque de estacionamento enquadra-se "na estratégia de mobilidade do concelho", inserida no MobiCascais.
Além do parque com 226 lugares, num investimento de 250.000 euros e prazo de execução de três meses, o projeto contempla ainda um "espaço verde multifuncional", composto por anfiteatro, áreas de estadia e parque infantil.