Utentes avisam que Linha de Cascais está degradada e exigem investimento

A Comissão de Utentes da Linha de Cascais (CULC) alertou para a “completa degradação” do material circulante e da via-férrea, e exigem que o Governo e as empresas responsáveis invistam na sua melhoria, em nome da segurança.
 
O alerta surge após a divulgação do relatório final do descarrilamento de dois comboios na Linha de Cascais, em 2013, provocado pela rutura de uma peça mecânica, e no qual são apontadas falhas à manutenção da Linha, tendo a comissão de inquérito feito várias recomendações, entre as quais, o "rigoroso cumprimento do plano de manutenção aprovado”.
 
“Este documento vem dar razão aos utentes e às suas preocupações. Comprova aquilo que há muito tempo temos vindo a dizer, que é a falta de investimento nesta Linha. O desinvestimento de há muitos anos fez com a Linha de Cascais esteja completamente degradada e o material, com mais de 60 anos, esteja desgastado”, disse à agência Lusa o porta-voz da CULC.
 
O relatório de investigação da comissão de inquérito nomeada pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), a que a Lusa teve acesso, indica que a “rutura do veio motor” dos rodados de um dos comboios “esteve na origem e na cadeia de eventos que conduziram aos dois descarrilamentos”, ocorridos a 08 de fevereiro, concluindo ter-se tratado de “uma falha técnica”.
 
A comissão de inquérito, presidida por um responsável do IMT e composta por mais quatro elementos, dois da Comboios de Portugal (CP - Portugal) e dois da Rede Ferroviária Nacional (REFER), aponta falhas à manutenção do material circulante na Linha de Cascais.
 
A manutenção é realizada segundo um plano, cujo cumprimento foi avaliado, tendo-se verificado que as automotoras envolvidas nos acidentes iriam “realizar visitas com atraso”.
 
No caso do veio motor fraturado, o último exame ultrassónico (espécie de ecografia) foi feito a 09 de julho de 2012, que comprovou não existirem anomalias. Porém, na ficha de registo ficou a recomendação de execução de novo exame, o que não aconteceu até à data do acidente, “sem justificação aceitável”.
 
O controlo do estado dos veios motor também não era efetuado convenientemente.
 
“Rastreabilidade incompleta do veio, por impossibilidade de identificação da sua origem e respetivo lote de fabrico, o que não permite a identificação de outros veios que possam ter a mesma origem”, salienta o relatório.
 
Segundo Filipe Ferreira, esta situação prova o que tem acontecido em Carcavelos.
 
“Comboios a serem desmantelados e a retirarem peças de uns para os outros. Essas peças, já degradadas, desgastadas e sem condições nenhumas, são colocadas nos comboios a circular e que depois acabam por dar problemas. Além da falta de manutenção do material circulante, não se vê ninguém a fazer a manutenção da linha férrea”, refere o porta-voz da CULC.
 
Os utentes apelam ao Governo, à CP e à REFER para que invistam na melhoria das condições e na segurança da Linha de Cascais, a qual, defendem, não deve ser privatizada.
 
Para os utentes, a realidade atual é negativa e põe em causa a segurança de todos.
 
“Paga-se mais, temos menos comboios, menos qualidade e com a insegurança com que todos viajam. Insegurança, não só para os utentes, como para os próprios trabalhadores”, frisou Filipe Ferreira.
 
O porta-voz da CULC vai reunir na próxima semana com os restantes elementos da Comissão, com vista a definirem formas de luta contra a degradação da Linha de Cascais, dizendo que “vão até às últimas consequências”.